quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Oremú, o planeta da visão abrangente

Relatório da viagem a Oremú, o planeta da visão abrangente. 

Sempre fui um destemido aventureiro, com o objectivo supremo de descobrir todo e qualquer recanto por explorar no imenso mar que é o espaço. Numa dessas viagens, encontrei um velho e humilde ancião que, em consonância com a experiência de vida, coleccionava sabedoria. Disse-me: «Tanto procuras! Mas apenas para descobrir, não para compreender. Deverias visitar o planeta Oremú!». À minha interrogação da sua localização, limitou-se a um enigmático «Se quiseres, ele deixa-se encontrar. Só necessitas é de estar preparado!».

Os anos passaram-se e, à medida que fui aprendendo a apreciar a qualidade em detrimento da glória efémera, o apelo de Oremú foi ganhando espaço, tornando-se no meu grande objectivo, não pelo reconhecimento mas pelo desejo de me completar.

Parti, sentindo que não mais voltaria a ser o mesmo. Estranhamente, não sei relatar o tempo que demorei. A sensação foi de chegada imediata, como se a viagem tivesse sido realizada durante o tempo que demorei a decidir-me.

Nunca, em todos os planetas que já visitei, vi algo assim. A visão era abrangente, no sentido mais lato. Começa pelo interior dos seus seres, só depois passando para o seu exterior. Ou seja, tive a oportunidade de conhecer bem a pureza e bondade de cada um, não me deixando enganar por uma aparência que não necessitava de ser trabalhada para demonstrar o que não se é. Sem essa vivência de imagem, os seus habitantes aprenderam a cultivar a tolerância e compreensão, o bem-estar e amizade. Um mundo perfeito, com todas as suas naturais imperfeições a que lhes é dada a importância irrelevante que possuem. As flores povoam os caminhos, perdurando no cabelo de cada. A vivência com os animais é complementar para uns e outros. 

Tal como com os seres, primeiro vi o interior do planeta. Apenas depois o seu exterior. E este é bem relevante dos seus propósitos. Em forma de regaço, com dois longos e esbeltos braços para nos embalarem e acariciarem, rodeando-nos de ternura.

A sua localização? Em todo o enorme espaço sideral, bem no nosso interior, numa cavidade do nosso coração chamada sensibilidade. Basta querermos.

(texto escrito há 10 anos, Janeiro de 2004)

6 comentários:

  1. Epá rapaz vai mas é escrever um livro. Ou melhor, vários livros!
    Tens imenso jeito. Esta pequena história ficou-me a saber a pouco.
    Eu comprava o teu livro de certeza! :)
    Beijinhos e obrigada pelo treino de hoje.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Isa!

      Esta é uma versão muito reduzida duma história muito mais ampla que idealizei mas nunca cheguei a passar para papel.

      Para comprares o livro, tinha que ser editado e sabes bem o que sucedeu com o outro e como actuam as editoras...

      Beijinhos e estes treinos são sempre um prazer :)

      Excluir
  2. Ok eu compro-te o livro mesmo sem ser editado!
    (Editores já quase não há! Há alguns hipermercados do ramo livreiro mas isso é outra coisa! Um abraço aos resistentes e desculpa João este aparte enigmático!)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pelo menos para mim, o oportuno aparte nada tem de enigmático!

      Um abraço

      Excluir