quarta-feira, 27 de maio de 2020

Abandono forçado

Este é o artigo que até poucos meses atrás nunca me passou pela cabeça ser obrigado vir a escrever.

Sempre me imaginei a envelhecer a correr. Por todo o prazer que a corrida proporcionou desde a minha primeira passada há 15 anos atrás, nunca tendo um só minuto de desmotivação, dúvida ou menos falta de vontade. Quem me conhece sabe bem a verdade que esta frase encerra.

Infelizmente, o pior cenário, aquele que não se queria sequer pensar, sucedeu. A condropatia está demasiada avançada, tentou-se uma última hipótese com a infiltração, segui tudo à risca, mas quando as cartilagens acabam de vez numa extensão tão longa, nada se pode fazer. Fica a certeza que tudo se tentou.

As dores são constantes (24 horas por dia) e mesmo que quisesse morder os lábios e aguentar dando umas passadas, não há mobilidade para tal. 

Para andar e fazer a vida mais ou menos normal, dá (com as tais sempre presentes dores) mas a única solução para deixar de as sentir é uma prótese e com prótese no joelho, não se pode correr.
Vou tentar protelar enquanto der, na ilusão de ainda inventarem uma revolucionária e inovadora técnica que resolvesse este problema. Deixem-me sonhar...

Dizia por piada que ainda iria fazer uma Maratona aos 100 (querendo demonstrar o quanto acreditava que a minha vida iria passar a correr) mas afinal nem cheguei a estrear-me no escalão a que acedi no mês passado (M60).

Quando cortei a meta na São Silvestre da Amadora, após uma muito prazerosa prova e com o bónus de ter feito os últimos quilómetros com o grande Orlando Duarte, nada poderia indicar que fosse a derradeira. Por isso, o conselho que dou é aproveitarem ao máximo cada passada. Nunca se sabe quando é a última...

Aproveito para tirar uma dúvida que me têm colocado. Este problema no joelho nada teve a ver com eventuais abusos em termos de quilometragem ou corridas efectuadas, mas sim por alguma pancada feita há já algum tempo (provavelmente uma pancada forte no bico duma mesa ou similar), tendo a rotura ficado ali silenciosamente a funcionar estilo lixa nas cartilagens, desgastando-as quase totalmente. E como as mesmas não têm terminais nervosos, durante esse tempo não senti fosse o que fosse até ter chegado a este estado. Mal apareceu a dor, bem de repente, parei. Não houve nada que pudesse ter evitado.

Foram 15 anos de puro prazer e recordações inesquecíveis que me enchem o coração. E é nisso que tenho que me focar e não ficar a lamentar tudo o que deixei de fazer e tinha planeado e sonhado. Mas acreditem que este processo é muito doloroso e nada fácil. 

Não vou desaparecer, gosto demasiado das corridas e do pelotão, por isso vou continuar a ir a algumas provas, agora como espectador e apoiante. O blogue também não vai parar, apesar de natural e inevitavelmente o ritmo dos artigos abrandar.
E claro, o histórico e calendário continuará a ser mantido, como tem sido desde há 11 anos, esperando que num futuro próximo suceda a tal tão necessária remodelação, melhoramento que estou certo irá agradar a todos e tornará a pesquisa e visualização incomparavelmente melhores.

Aproveito para agradecer a todos por estes fantásticos 15 anos que vivi dentro das corridas! 

Um grande abraço e fiquem bem! 

domingo, 10 de maio de 2020

Não, nunca é mais uma!


Existem frases feitas que servem apenas para muleta ou desbloqueador de conversa. Desde o famoso "cá estamos" ao "tudo bem" automático, seja ou não real.

Como em tudo na vida, também há dessas muletas nas nossas corridas. Uma é quando se quer iniciar uma troca de palavras com algum outro corredor, dizer "mais uma, não é?". 

Confesso que das imensas vezes que ouvi essa frase, fico sempre sem jeito, não sabendo o que responder, limitando-me a um "pois", apenas para dizer algo. Mas a verdade é que para mim, nenhuma foi mais uma. 

Fosse qual fosse o seu grau de exigência, tratei cada uma, não como "mais uma", mas como "esta corrida" pois era a que ia vivenciar. Sempre vivi com paixão este desporto e em cada uma entreguei-me de alma e coração.

Vem isto a propósito do que tenho recordado esta frase feita neste momento actual. Certamente que nenhum dos atletas que alinhou nas dezenas de provas que se disputaram a 8 de Março imaginava que estavam a participar num evento de corrida pela última vez num largo tempo indeterminado. Se fosse possível prevê-lo, certamente que a maneira que se tinham agarrado a essa corrida, ou pelo menos o seu apego sentimental, seria diferente.

A menos que seja planeado, nunca sabemos quando fazemos algo pela última vez. Por isso, a paixão com que nos devemos dedicar a cada acto. Por mais insignificante que possa parecer, a sua importância aumenta de forma exponencial aquando da sua falta.

No meu caso pessoal, participei no último dia do ano na São Silvestre da Amadora, sem imaginar nem passar remotamente como hipótese, que seria a última durante largos meses, quiçá de sempre, apesar de todas que já estavam programadas, algumas naquela classe muito especial da mítica distância.

Ao contrário do habitual, escrever pelo menos uma vez por semana, nos últimos meses este blogue tem sido maioritariamente preenchido com silêncio.
Muitas vezes penso em redigir algo mas, sinceramente, não sei o que dizer quando tenho um ponto de interrogação tão grande na perspectiva de continuar a fazer o que amo e tanto prazer me dá.

Continuam em cima da mesa as 3 hipóteses: Correr como fazia (o que nesta altura pouco mais é do que uma hipótese meramente académica), poder correr mas apenas distâncias mais curtas e mais devagar ou nem sequer poder correr mais. 

Dia 18, se tudo correr como se espera, irei fazer a tal infiltração ao joelho, à espera dum milagre. Tudo o que posso fazer, tenho feito, seguir à risca todas as indicações.

A foto que coloquei neste artigo foi tirada a escassos metros da meta na Maratona de Valência 2018. Se a Maratona de Sevilha 2014 foi a corrida da minha vida, o último quilómetro desta Maratona em Valência foi o quilómetro que mais me marcou e mais exultei em virtude do incrível ambiente. A minha cara revela toda a felicidade ao correr e é assim que recordo as corridas, com felicidade. 

Se for obrigado a ficar por aqui, duma coisa não me posso queixar, o ter tido o enorme privilégio de ter participado em 466 corridas. 466 hipóteses de sentir o prazer de correr e competir comigo mesmo. E não, nenhuma foi mais uma.

Mas, já sabem, se houver a mínima hipótese de continuar, mesmo limitado, agarrarei essa oportunidade com ambas as mãos (ou melhor dizer, pernas). Só desisto mesmo quando não resta qualquer outra solução. Já me conhecem.

Fiquem todos bem para, num futuro, todos podermos estar unidos de forma real e não apenas virtual. 
Recebam um abraço de amizade.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Vamos colaborar neste inquérito


Bastas vezes, temos uma percepção da realidade pelo chamado "olhómetro". Calculamos que uma determinada situação esteja a afectar x pessoas que reagem de y maneiras. No entanto, nada como inquéritos bem estruturados para transmitir uma imagem focada. 

E para que essa imagem seja o mais focada possível, é necessário um número significativo de respostas. 

A Lap2Go, conhecida e reconhecida organização de corridas que nos saciam a vontade de correr, associou-se à CICS.NOVA/NOVA FCSH (Portugal) e à INEFC/UdL (Espanha) para um inquérito com o intuito de caracterizar os desportistas em Portugal e Espanha e o seu estado anímico perante o COVID-19.

Numa primeira fase, fez a divulgação através da sua base de dados, o que permitiu contar com cerca de 2.000 respostas, mas pretende-se alargar o leque para uma melhor compreensão de como estão os praticantes a lidar com toda esta situação e o que esperam dos próximos tempos.

O desafio é dirigido a quem ainda não respondeu que o possa fazer até este domingo (10 de Maio). Para tal, cliquem aqui

Desde já agradecido em nome dos promotores, passo a transcrever o mail original com os propósitos:

Perante a situação que se vive em Portugal e Espanha devido à Pandemia de COVID-19, o Grupo de Investigação Sistemas de Modelação e Planeamento do CICS.NOVA/NOVA FCSH e o Grupo de Investigación Social y Educativa de la Actividad Física y del Deporte (GISEAFE) do INEFC/UdL estão a promover um estudo de âmbito ibérico sobre os impactos ao nível da prática dos principais desportos de ar livre que resultam das medidas extraordinárias impostas aos cidadãos.

A Lap2Go associou-se a este estudo por considerar a iniciativa de enorme relevo para a compreensão dos impactos do COVID-19 nas atividades de todos aqueles que têm vindo a participar nos eventos e que têm estado connosco desde há vários anos. A caracterização dos impactos pretende ser um contributo para a discussão da reabertura das atividades que todos apreciamos enquanto participantes de desportos de ar livre.

A participação neste inquérito é anónima e voluntária, estando garantida a total confidencialidade das respostas.

Pode aceder ao inquérito no seguinte link: https://arcg.is/1TG9ea

Puede contestar a la encuesta en el siguiente enlace: https://arcg.is/0uPO0K