quarta-feira, 15 de maio de 2013

História trágico-cómica das duas primeiras medalhas

Há 4 meses atrás, mostrava aqui as 100 medalhas que recebi nas mais diversas provas de Atletismo (todas de participação), número que actualmente está nos 108. 

A elas juntam-se 5 outras ganhas no Karting, aqui já por lugar e não participação, conquistadas por volta da mudança do milénio.

Mas duas há que têm muito mais tempo e uma história, digamos, caricata. 
Recentemente a minha mãe foi descobri-las, bem como recordar as suas "incidências".

Estamos em 1963. Tomar, cidade do interior, onde grande parte das crianças ficavam com as mães, na altura não trabalhadoras, até irem para a escola primária. E era essa a altura onde as coisas começavam, sem a experiência dos infantários para adaptação, como hoje sucede.

A minha irmã, mais velha 4 anos, começou a frequentar aulas de ginástica. Todos estavam na primária mas, como a minha mãe tinha que levar a minha irmã, porque não levar o puto de 3 anos? Lá autorizaram, e eu lá fui fazendo as cambalhotas e a chamada ginástica sueca. 

A coisa foi rolando e no final da época, 1964 e já com 4 anitos, o inevitável sarau de fim de ano. 

Parece que durante as aulas comportava-me satisfatoriamente, num ginásio sem mais ninguém a não ser os restantes ginastas e o professor. Mas num sarau? Feito num enorme salão duma sociedade e completamente ladeado por cadeiras com os familiares dos ginastas? Com um rapazinho de 4 anitos que quando estava envergonhado dava-lhe para o disparate?

Pois. O sarau transformou-se numas duas dezenas de ginastas aplicados na sua tarefa e numa mascote da turma a fazer rir todo o público presente! O professor mandava deitar e eu ficava em pé ainda abismado a olhar para todo aquele aparato do público. Quando me apercebia que os outros estavam deitados, lá me estendia na altura que todos (teriam espírito de contradição?) já estavam em pé. 
O público começou a não tirar olhos do rapazito que fazia tudo ao contrário e os meus pais embaraçados com a actuação do petiz, até acharem que o melhor seria alinhar pelos outros e rirem-se também.

E foi assim que no final deram uma medalha a todos os ginastas presentes, inclusive ao palhacito de serviço que recebeu a maior ovação do sábio público presente, apesar do ar de poucos amigos do professor.

Apesar de tudo, continuei no ano seguinte na ginástica. e sempre a cumprir com o pedido. Mas como tudo o que é bom acaba, lá chega o final do ano e, imaginem, novo sarau.

O professor chegou a ponderar que eu não ia mas lá entendeu o contrário e toca de me presentear com uma série de conselhos (palavra mais suave que avisos) para eu me portar como "um homenzinho", agora que já tinha 5 anos (exigia-se muito que as crianças se comportassem como adultos em miniatura). Claro está que até à hora de entrada em cena, recebi um número incontável de pedidos dos meus pais para deste vez me comportar dignamente.

Lá nos equipámos a rigor para a época (sapatilhas brancas, meias brancas, calções brancos e camisola, para variar, branca). Mas o que me deu na altura? Como recentemente tinha feito anos e tinha recebido um carrinho da Matchbox daqueles à escala 1/64 que não o largava, e como não o queria deixar sozinho no balneário (para não pensar que tivesse sido abandonado...), toca de o esconder entre os calções e levá-lo .

Ora, o não gostar de ser pressionado não é de agora, já nasceu comigo. E tanto ouvi antes do sarau que ao entrar em acção, desliguei e fechei-me comigo próprio. Lá bem no meio dos atarefados ginastas em grandes exibições, estava o rapazolas estendido no meio do chão a brincar com o carrinho e até a fazer "brum, brum" para dar mais realismo às viagens que o carrinho fez naquele belo chão transformado em estradas de evasão.  

Mais risos, os meus pais mais vermelhos, mais uma cara de pau do professor a ter que dar uma medalha àquele miúdo terrível, e o fim da minha (muito promissora) carreira de ginástica pois não regressei no ano seguinte, até porque tinha sido decidido só autorizar alunos com mais de 6 anos (até fiz mudar regras!).

E pronto, foi essa a história recordada ao reaver as famosas medalhinhas e que aqui partilhei.

14 comentários:

  1. Adorei a História João :)

    Bem merecidas as medalhas :)

    Ser criança é sem dúvida o melhor que existe no Mundo.

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  2. Ahahaha lindo! :) Lá se perdeu um ginasta promissor, mas ganhou-se um grande atleta de pelotão. ;)

    Beijinhos

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    1. Mas foi preciso esperar muito tempo para se ganhar um atleta de pelotão!

      Beijinhos

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  3. Que delicia de historia!
    Eu venho do tempo em que não havia medalhas de participação (na verdade no começo nem camisolas havia).
    Quando começou a haver medalhas de participação era só até determinados ponto da classificação e implicava dar as pernas para as apanhar!
    Agora muitas provas dão medalhas a todos e se por um lado é uma recordação e um incentivo para quem se esforçou nos seus objectivos pessoais para quem já tem muitos anos disto e anda nas caudas dos pelotões não tem assim grande significado (pelo menos para mim).
    Curiosamente a única medalha que tenho pela classificação não é uma medalha mas uma placa que obtive pelo meu 5º lugar nas 12 horas de Vila Real de Santo António em 1987.
    Uma das mais bonitas medalhas que tenho foi-me dada pela minha participação como caminheiro no Grande Prémio de Constância e só fiz um pouco da caminhada pois acompanhava um amigo a recuperar de grave problema de saúde mais o neto (criança de colo) e a filha. Foi completamente desproporcionada a qualidade da medalha e o esforço que fiz que foi quase nulo!
    Já da minha melhor maratona não tenho medalha, camisola, diploma nada! Outros tempos!
    A última vez que me “esfarrapei” topo para trazer algo de uma prova foi no Entroncamento. Anunciavam no regulamente da prova que até determinado lugar da classificação dariam um peça de loiça e lá vou “prego a fundo” a ver se me safava e trazia a dita peça para a “patroa” que foi comigo assistir a prova. Conseguir até que consegui só que, para tristeza da minha mulher, em vez da peça de loiça veio uma medalha!

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    1. O dar medalhas a todos penso que não perde significado pois para o último pode simbolizar uma enorme conquista. Pelo menos a minha medalha da Maratona, e fui dos últimos, olho para ela e vejo-a de ouro! :)

      Um abraço

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  4. Muito bom!!!
    João Lima ginasta, quem diria! ;)

    Abraço!!!

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  5. Hehehe =D Adorei! Fartei-me de rir.
    Eras mesmo do contra. E brincar com o carrinho enquanto os outros estão a fazer demonstrações de ginástica...essa foi demais! =)
    Beijinhos e bons saraus, perdão, bons treinos ;)

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    1. Na realidade, nunca fui um alinhado, sempre segui a minha via própria :)

      Beijinhos :)

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  6. Muito bom João...ri-me à grande à custa desta tua história. Muito bem escrito tb.
    Eu tenho uma história muito parecida, mas num rancho folclórico de imigrantes, do meu tempo na alemanha....só não recebi medalha por isso...mas isso, não é para ninguém saber, pssss....é segredo :D
    Abraço

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    1. Segredo? Aguças a curiosidade e depois dizes que é segredo? :)

      Um abraço e força para o grande desafio!!!

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  7. Agora é que fiquei a saber a origem das anedotas do "menino Joãozinho"... vêm das traquinices do João Lima quando era menino! ;-)

    Abraço e boa ginás... quero dizer, boas corridas!

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