terça-feira, 22 de março de 2011

Ainda umas notas a propósito da Meia-Maratona da Ponte 25 de Abril

Ainda umas notas a propósito da Meia-Maratona da Ponte 25 de Abril

Segundo relatos que me fizeram, este ano não houve o habitual controlo de só passarem para a frente os participantes da Meia-Maratona, misturando-se atletas que iam correr 21 kms com outros que apenas iam caminhar, e quando assim é, vão várias pessoas lado a lado, criando uma barreira custosa de ser passada. Basta olhar para as classificações para notar que as diferenças entre o tempo de chip e o real são bem maiores do que o habitual.

Sou apoiante da existência de minis/caminhadas pois é uma forma alternativa, por vezes a única possível, de muitos praticarem algo de saudável. E a Mini não só serve os caminhantes como quem não tem ainda estofo para se atirar para uma Meia e corre cerca de 7,5 quilómetros. Aliás, muita gente se iniciou nesta Mini no Atletismo. O meu caso, por exemplo.

A questão é que, tal como já tinha referido na crónica sobre a S.Silvestre de Lisboa (ler aqui), cada um tem que ter a noção exacta das suas faculdades e colocar-se adequadamente na linha de partida. A parte da frente terá que ser reservada a quem luta por grandes tempos. O meio aos de ritmo mais moderado, e a parte de trás a quem caminha. Esta é a solução de bom senso que cada um deveria assimilar.

O que se passa é ser frequente ver caminhantes com uma enorme sede de se colocarem à frente, sabe-se lá com que vantagem. Não só os atletas que querem correr são prejudicados, como eles próprios se arriscam a algum encontrão mais violento. E as quedas, com possíveis consequências, acontecem!

Mas atenção que o recado não serve apenas para os caminhantes. Todos conhecemos alguns corredores que, sistematicamente, se apresentam na primeira fila para depois finalizarem na 2º metade da classificação. Provavelmente querem ficar na fotografia, esquecendo-se que ficam registados para a posteridade não pelos melhores motivos mas sim pela triste figura que fazem.

Ora, se não há o bom senso de cada um se colocar consoante a sua real capacidade/objectivo de corrida, terão que ser as organizações a forçarem esse desiderato, o que parece falhou nesta edição.

Outro ponto tem a ver com a transmissão televisiva. Mesmo quando estou presente, vejo sempre a transmissão integral da prova (mais tarde, logicamente) e em todas as ocasiões fico decepcionado com a oportunidade perdida de incentivarem o comum espectador a uma prática desportiva real. Como sempre, apenas mostram os atletas de elite e os, digamos, mascarados. Quem não faz ideia do que é o mundo da corrida, a sensação que fica é ou se é atleta profissional ou se vai para a palhaçada, ente aspas. Os mais de 90% que constituem o pelotão da Meia, atletas amadores e comuns cidadãos, são completamente ignorados.

Ora, defendo que seria muito positivo igualmente mostrar que aquele homem/mulher comum, igual a quem está sentado no sofá, também pode correr e até uma distância como uma Meia. Passar a mensagem que é possível. Incentivar à prática desportiva. Numa transmissão de cerca de 2 horas, não seria difícil encaixar uns 10% do seu tempo para os mais de 90% de atletas de pelotão.

Mas, edição a edição, as oportunidades são desperdiçadas.

A última nota tem a ver com o feito de Dulce Félix. Os orgãos de comunicação social generalistas, apenas noticiaram “Tadese venceu Meia”, “Tadese não bateu o record do mundo”, “Tadese aproximou-se do record”. Nem uma palavra para Dulce Félix. E o que fez a Dulce?

“Apenas” bateu o record nacional com um tempo de classe mundial.

“Apenas” fez uma corrida de trás para a frente, ultrapassando uma a uma todas as quenianas, só se quedando atrás da etíope Kebede que teve que ir buscar as últimas forças para se impôr.

“Apenas” provou que é possível quebrar o domínio africano.

E para finalizar, “apenas” foi sensacional.

Tudo isto, para "apenas" ser ignorada...

7 comentários:

  1. Caro João,
    Como sempre estou de acordo. Ainda bem que referiste estes aspectos, que suponho serem os que a maior parte dos atletas sente. Estive na Mini, mas bastante lá para trás, onde só haveria algum meio-maratonista retardatário que depois tinha que serpentear por entre a multidão, mas verifiquei a falta de civismo de alguns participantes que, já na Avenida da Índia, caminhavam na faixa destinada aos atletas, obrigando-os, já com muitos kms nas pernas, a desviarem-se! Falta de civismo, ignorância ou simplesmente estupidez? Pensei para mim: uma desclassificação era bem aplicada...

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  2. Perfeitamente de acordo com o problema das partidas e da mistura com as caminhadas.
    Também concordo que se vem muitos atletas na frente da corrida que depois são dos últimos a chegar!
    Tecnicamente o ideal é separar os caminheiros dos corredores com é feito na Ponte Vasco da Gama.
    Não sei com se tem feito a partida nos últimos anos na Ponte 25 de Abril porque tenho estado ausente. Mas sei é que do ponto de vista técnico a partida da ponte 25 de Abril apresenta imensos condicionalismos (inclusive alguns impostos pelas autoridades) que dificultam muito uma separação entre os corredores e os caminheiros.
    Quem vê as provas pelo lado de fora está muito longe de saber todos os problemas técnicos e aparentemente tudo é de fácil solução.
    A equipe técnica da meia de Lisboa é sem sombras de dúvidas a mais experiente que existe em Portugal sendo a mesma que organiza a meia maratona na ponte Vasco da Gama e se não faz melhor é porque tal tecnicamente é impossível.
    Com isto não quero dizer que tudo seja prefeito e que as vezes não possam surgir problemas. A organização de uma prova de grandes dimensões (as vezes até de pequenas) está sempre sujeita a imprevisto de última hora que as vezes complicam as coisas.
    Quem como eu já colaborou, modestamente, com várias organizações de provas de varias dimensões sabe que se “sofre” mais desse lado do que quando “apenas” se tem que correr a prova!
    Quando ao problema do tratamento da Dulce Félix na impressa em Portugal desporto é só Futebol! Caso seja preciso os jornalistas até sabem a cor das cuecas dos jogadores!
    Quase não há uma cultura de jornalismo desportivo mas sim de “futebolismo”!
    Se um atleta Português tiver o “azar” de bater o recorde do mundo da maratona no dia em que se jogue um “clássico” estilo Benfica – Porto vão ver as manchetes dos jornais no dia seguinte!

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  3. Pois amigo Egas, pelo menos é falta de sensibilidade para o que é uma corrida e o seu (enorme) esforço!
    Mas nestas provas aparece sempre muita gente que apenas participa uma vez por ano e não está habituado a estes meandros.

    Um abraço amigo

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  4. Artigo muito oportuno, amigo João, nos vários aspectos abordados!

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  5. Obrigado Jorge e Carlos pelas colaborações.

    E quanto à separação da Meia/Mini, Jorge, sendo absolutamente verdade que a logistica na 25 de Abril é muito dificultada, e até pelo dobro das pessoas em relação à Vasco da Gama, nos anos anteriores tinham umas grades a separar a passagem lá para a frente, onde só passava quem tinha dorsal da Meia, o que este ano não existiu.
    Mas a minha crítica é fundamentalmente para quem não se sabe colocar onde deve.
    Com bom senso nenhum controlo seria necessário.
    Mas isto é a minha veia idealista a falar...

    Um abraço amigo aos dois

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  6. Não faço ideia a que se deveu a falta da grades mas estou de acordo que com bom senso tudo se resolveria.
    Pode até ser que tenha sido a falta do tal bom senso, ou melhor de civismo, que levou a não existirem grades este ano.
    Nada sei sobre isto mas já soube de um situação, noutra prova, em que as pessoas derrubaram grades com 2 metros de altura sem contar com aquela “cena” de um elemento da organização que controlava os atletas na linha de partida de modo a não ultrapassarem o risco e foi ameaçado por um “atleta” que levava um navalha nos calções!
    O amigo João Lima nem lhe passa pela cabeça o que os organizadores de provas da “velha guarda” já viram!

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  7. Estou a ver que não me passa mesmo pela cabeça...!
    Ele há cada um!

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