É certo e sabido que sempre existiram provas que desapareceram e outras que foram aparecendo, um pouco como o ciclo da vida.
No entanto, o número de corridas que desde o ano passado têm sido canceladas ou deixado de se organizar, algumas mesmo a escassos dias da sua realização, tem sido deveras significativo.
Só para se ter uma ideia, e pegando apenas nas provas que constam no Histórico de Resultados das Provas Portuguesas na minha página de Atletismo, temos:
Uma relação de 20 provas a que ainda se pode juntar o Grande Prémio José Araújo (Aqueduto de Lisboa) que a esta hora tudo leva a crer que também tenha desaparecido, embora careça de confirmação oficial.
A que se deverá esta relação tão numerosa desde apenas o ano passado?
À crise, alegada ou verdadeira? Ao corte que as Câmaras e Juntas de Freguesia têm sofrido? Ao retrair de patrocinadores?
Uma coisa é certa, não será pelo número de concorrentes que na esmagadora maioria dos eventos batem o record de participação, o que não deixa de ser um paradoxo, mais concorrentes e menos provas.
Não tenho qualquer conhecimento de organização de provas mas, segundo tenho lido, os custos estão a disparar com taxas e policiamento. A maior parte funciona pela carolice e apoios publicitários.
Apesar do que alguns, poucos, dizem, o valor de inscrição é quase sempre bastante barato e nalguns casos simbólico. Especialmente tendo em conta tudo o que se recebe no final que, bastante vezes, é superior ao que se pagou.
Basta comparar com os restante países europeus onde as nossas provas mais caras (as Pontes) são um valor muito barato, e onde se recebe muito menos, além de que as nossas organizações são, na generalidade, bastante superiores ao que se passa lá fora.
Atenção que estou a falar de provas na generalidade e não aquelas Meias e Maratonas altamente patrocinadas onde muito português vai e fica com uma ideia diferente do que é o usual.
Só para dar um exemplo, deixo aqui um testemunho. Chantal Xhervelle, conceituada atleta, em entrevista ao suplemento Mundo da Corrida da Revista Atletismo de Dezembro de 2009, instigada a comparar as provas nacionais com as do seu país de origem, a Bélgica, não regateia elogios às nossa provas. Exemplifica com diversos factos como
- Os atletas que correm por clubes terem que pagar uma anuidade de aproximadamente 75 euros e um seguro de 25, pagando do seu bolso as inscrições nas provas que são bem mais caras do que cá. No final não há camisolas ou medalhas (só em raras provas muito patrocinadas). Se alguém quer ter uma camisola alusiva da prova, tem que a pagar.
- As inscrições costumam ser no dia da prova com longas filas antes da partida
- O horário das provas começa ao fim da manhã ou à tarde, ocupando muitas horas o que prejudica a vida familiar pois corta o dia todo.
- A entrega dos prémios demora largas horas para obrigar os atletas a consumirem no bar. E é raro haver prémios monetários e quando há é muito pouco.
A isto tudo acresce o facto do material desportivo ser muito mais caro na Bélgica, sendo raro haver saldos ou promoções.
Temos, como se vê, um bem que é obrigatório preservar e não esperar que outros tratem do assunto. Apetece-me adaptar uma frase de John Kennedy "Em vez de perguntares o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu país".
É que não basta chegar às provas, correr e exigir tudo. Tem que se colaborar. E quando digo colaborar, não refiro ajudar na organização mas ajudar a organização. Em quê?
- Não participar à "má fila", sem inscrição feita, e usufruindo de todo o evento
- Não dobrar os dorsais para só ficar o número, tapando os patrocinadores. Já ouvi atletas clamarem que para fazerem publicidade tinham que ser pagos, esquecendo-se que sem esses apoios não haveria prova nem brindes.
- Os clubes respeitarem as provas gratuitas e não inscrevendo todos os atletas para nem metade aparecer. Os organizadores têm que providenciar um número bastante alto de sacos que fica por entregar, com os custos inerentes. E não podem prever que vai faltar uma determinada percentagem de atletas para não correrem o risco de faltar para quem apareceu.
- Não exigir "brindes de ouro" por uma inscrição baixa.
- Os premiados não faltarem ao pódio pois essa é a altura dos patrocinadores se mostrarem. E se não houver atletas presentes na cerimónia, não há retorno. E sem retorno deixa de haver patrocínio. E sem patrocínio, deixa de haver prova!
- Idealmente, os restantes atletas também assistirem a essa cerimónia. Mas aqui também depende da celeridade com que o organizador realiza esse momento pois também não se pode exigir que fiquem ali centenas de atletas demasiado tempo presos.
- Criticar construtivamente sempre que haja para criticar mas também não se coibir de elogiar o que é merecedor. Para os organizadores carolas, é sempre reconfortante e motivador para continuarem a trilhar o caminho.
Estas são ideias que me ocorrem, ao sabor do momento e sem um estudo prévio e profundo, além da evidente ignorância sobre a matéria organizativa, mas com toda a vontade de poder colaborar e evitar este acumular de cancelamentos.
Que haverá muito mais ideias, sim! Deixo aqui o convite a todos para participarem com ideias e/ou criticas.
É que todos gostamos de ter provas para correr!
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