domingo, 10 de abril de 2016

Comemora-se hoje 120 anos da 1ª Maratona!

A lenda

Estátua de Fidípides na estrada de Maratona
Em 490 A.C. os persas invadiram a planície da cidade grega de Maratona. Daí, começaram a preparar-se para o seu objectivo final, a invasão de Atenas. Juraram que, depois de derrotar o exército grego, ao entrar em Atenas violariam as mulheres e matariam as crianças.

Em clara inferioridade numérica, o general grego Milcíades ordenou ao seu melhor corredor, o soldado e atleta Fidípides, para correr até Esparta e outras localidades para os incentivar a juntarem-se ao exército.
Em 2 dias Fidípides correu cerca de 240 quilómetros.

Foi dura e prolongada a batalha, mas o exército grego, reforçado pelos soldados que Fidípides conseguiu reunir, venceu.

Como, para impedir a ameaça persa, tinham sido dadas ordens às mulheres para se suicidarem e matarem os seus filhos caso não vissem o exército regressar brevemente, Fidípides foi encarregue de nova missão. Correr o mais rápido possível os cerca de 40 quilómetros que separavam Maratona de Atenas para dar a boa nova.

Apesar de esgotado pela distância percorrida antes da batalha e pelo esforço heróico desta, Fidípides nunca desistiu e ao chegar às portas de Atenas apenas gritou "NENIKEKAMEN!" (vencemos!) caindo morto pelo esforço.

Como nasceu a Maratona

Pierre de Coubertin em 1894

Em 1894, o barão Pierre de Coubertin, com apenas 21 anos, idealizou uma competição internacional para promover o Atletismo. Tirando partido dum crescente interesse internacional sobre os Jogos Olímpicos da antiguidade, alimentado por descobertas arqueológicas nas ruínas de Olímpia, Coubertin concebeu um plano para fazer reviver os Jogos Olímpicos.
Para publicitar os seus planos, organizou um congresso internacional em Paris onde propôs que fosse restituída a tradição de organizar um evento desportivo periódico, inspirado no que se fazia na Grécia antiga. Este congresso levou à constituição do Comité Olímpico Internacional e à decisão que os primeiros jogos fossem em Atenas em 1896.

No intuito de criar uma ponte entre a antiguidade e a era moderna, foi decidido organizar uma corrida nesse Jogos que homenageasse o heroísmo de Fidípides para evitar a morte das atenienses e seus filhos. Essa corrida seria pelo mesmo caminho entre Maratona e Atenas e foi-lhe dada o título de Maratona.

A 1ª Maratona

O percurso da 1ª Maratona

A primeira corrida com o nome oficial de Maratona, deu-se a 10 de Abril de 1896 (faz hoje 120 anos), nos I Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Na realidade, um mês antes, disputou-se uma corrida de qualificação com a mesma distância. Foi a primeira com a distância mas ainda sem o seu nome. A 12 dias da Maratona, disputou-se uma outra de qualificação onde Spiridon Louis foi 5º acabando por ser repescado para o grande evento.

Aos olhos de hoje, parecerá estranho disputarem-se eliminatórias tão perto da prova em si, sabendo-se do necessário tempo de recuperação, mas estávamos no início e num tempo com conhecimentos básicos e alguns errados, como a corrente que afirmava que beber água em competição era prejudicial. E assim, atletas corriam uma Maratona sem se hidratarem... 

Atletas a treinarem para a Maratona olímpica
A Maratona olímpica tinha uma lista de 25 inscritos dos quais 17 partiram e apenas 9 finalizaram, classificando-se 8. Os 17 atletas pertenciam a 5 países diferentes (13 gregos e 1 francês, húngaro, australiano e norte-americano) 

Dada a partida, o francês Albin Lemursiaux tomou a dianteira seguido pelo australiano Edwin Flack e o norte-americano Arthur Blake, que viria a desistir aos 23 km, numa altura que já tinham abandonado os gregos Ilias Kafetziz, Sokratis Lagoudakis e Dimitrios Khristopoulos.
No quilómetro seguinte mais duas desistências, os gregos Ioannis Lavrentis e Georgios Grigoriou.

A partir dos 30 km, como habitualmente, a Maratona começa a definir-se e aos 32 o líder Albin Lemursiaux abandona, deixando Edwin Flack na dianteira  mas com Spiridon Louis, fazendo-se valer da sua grande resistência a aproximar-se cada vez mais, levando a que aos 37 km, com apenas 3 para cumprir (esta Maratona teve 40 km), Flack abandonasse exausto.

Spiridon Louis ficou assim isolado, entrando no Estádio Panatináico debaixo de grande euforia do público (o Estádio Panatináico foi o berço do Atletismo e para conhecer ou recordar a sua história, cliquem aqui neste artigo que escrevi em 2011 e onde, além da história irão conhecer alguns pormenores curiosos como o que significa Nike ou estádio).

Spiridon Louis corta a meta em apoteose
Spiridon registou 2.58.50, seguido de Kharilaos Vasilakos (3.06.03) e Spiridon Belokas (3.06.30). No entanto, 1ª Maratona 1ª batota! Descobriu-se que Belokas tinha feito uma parte do percurso numa carruagem, sendo assim desclassificado e atribuída a medalha de bronze ao húngaro Gyula Kellner (3.06.35), o único não grego a finalizar a prova. Os restantes 5 classificados foram, por ordem, Ioannis Vrettos, Eleitherios Papasimeon, Dimitrios Deligiannis, Evangelos Gerakeris e Stamatios Masouris.

Spiridon Louis

O vencedor, Spiridon Louis, era um pastor de ovelhas grego de 23 anos que se tornou assim herói nacional, recebendo inúmeros presentes, desde jóias até à oferta de ter a barba feita de forma gratuita pelos barbeiros da região pelo resto da sua vida.
Não tornou a participar numa corrida. Passou a ter uma vida mais sossegada, primeiro como fazendeiro e depois oficial da polícia.
O seu nome continua imortalizado no movimento Spiridon, da qual a nossa revista nacional é um orgulhoso exemplo desde 1978.


Estava assim concluída esta prova feita para homenagear a lenda de Fidípides, desconhecendo-se  na altura que estava a nascer algo mítico.

Até hoje

No entanto demorou até a Maratona se tornar no que é hoje, com milhares e milhares de atletas a emocionarem-se em cada meta conquistada.

Para muitos era visto como uma espécie de parente pobre do Atletismo, enquanto hoje é a prova rainha.
A sua expressão dava-se fundamentalmente de 4 em 4 anos com os Jogos Olímpicos e algumas de campeonatos nacionais. Eram raras as chamadas comerciais, das quais Boston era uma honrosa excepção.

Em Portugal, país traumatizado com a morte de Francisco Lázaro nos Jogos de 1912, até ao final da década de 70 apenas se disputava o Campeonato Nacional de Maratona, competição que chegou a ter apenas 1 atleta classificado em 1956 e cujo máximo até 1974 foi de 7 classificados.

Katherine Switzer na Maratona de Boston em 1967, quando um oficial viu que era uma mulher e tentou colocá-la fora pelo "sacrilégio", tendo continuado graças aos restantes atletas que a ajudaram

Mulheres, nem pensar! Até 1972 o máximo que as mulheres podiam competir oficialmente era de 800 metros pois, segundo vozes doutas, não tinham capacidade para mais!!!
Isto apesar de Katherine Switzer ter concluído, disfarçada, a Maratona de Boston em 1967.
Apenas em 1982 a Federação Mundial abriu a Maratona ao sector feminino, com a primeira competição oficial a ser englobada nos Campeonatos Europeus em Atenas, terminando a Maratona no estádio Panatináico e com vitória da nossa Rosa Mota.

Rosa Mota corta a meta na 1º Maratona oficialmente dedicada ao sector feminino, Campeonato Europeu de Atenas 1982 

Nos anos 70 deu-se o aparecimento de diversas Maratonas comerciais que potenciaram um verdadeiro boom até aos nossos dias.

Não é possível saber a distância exacta que Fidípides percorreu nesse dia, qualquer coisa como 40, 40 quilómetros e pouco, e a Maratona não teve inicialmente uma distância fixa. 

Nos Jogos de 1896 foi de 40 km, em 1900 de 40,260, regressando-se aos 40 em 1904, aumentando-se para 41,860 em 1906 e 42,195 em 1908. Em 1912 foi de 40,2 e 1920 o máximo de 42,750. Finalmente em 1924, decidiu-se adoptar a distância de 1908, os nossos tão bem conhecidos 42.195 metros ou 26,220 milhas.

Actualmente, a Maratona é o sonho maior de milhares de atletas por todo o mundo e onde no momento glorioso de cortar a meta, sentem como Fidípides... Vencemos!

Faz hoje 120 anos que tudo começou!

Hoje em dia são milhares que se aventuram na mítica distância, por todo o mundo

12 comentários:

  1. Excelente lição de historia sobre os míticos 42,195 km! Ser-se corredor é uma coisa ser-se maratonista é outra!. Aqui fica o desafio: quem nunca fez uma maratona que experimente! Obrigado João Lima por este excelente texto. Um abraço de um maratonista reformado, mas uma vez maratonista é para sempre! Morre-se maratonista!

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    1. Será que és maratonista reformado?

      Sim, uma vez maratonista, maratonista sempre! :)

      Um abraço e obrigado

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  2. Magnífico texto, perante o qual até eu tive vontade de voltar a fazer a maratona (há quem a faça com muito mais idade)! Obrigado, João e um abração

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  3. Excelente texto João.
    Parabéns o bichinho faz cocegas ao ler o texto.
    Um abraço

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  4. Muito bom e aprendi uma série de coisas!

    Obrigado João.

    Abraço

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  5. Excelente trabalho, como sempre!
    Um abraço

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  6. Olá João,
    Também aprendi com este texto, obrigada.
    Talvez um dia me aventure... Se esse dia chegar, dir-te-ei. :)
    Sofia

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    1. Faço força para que esse dia chegue! :)

      Beijinhos e tudo a correr bem

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