quinta-feira, 26 de março de 2015

Há 9 anos atrás

A minha estreia em corrida

Faz hoje 9 anos que me estreei numa corrida. Foi na Mini-Maratona englobada na Meia-Maratona de Lisboa 2006.

Longe de mim imaginar que passados 9 anos tinha no currículo 327 corridas, das quais 3 Maratonas, a 17 dias de tentar a 4ª.

Eu que, na semana anterior à estreia, respondi a um colega que me questionou se ia à Meia ou Mini: "Mini! Meia não faço nem nunca farei!" E acreditem que foi dito com toda a convicção. Na altura, 10 quilómetros pareciam-me o limite dos limites para um "ser humano normal" como eu. 21 só para super-atletas e 42 reservado a ETs!

O que me levou a estrear nesta prova? A meio de 2005 o meu organismo estava farto de me enviar sinais que não andava bem. Muito stress laboral, demasiado imobilismo físico. E recordo que o imobilismo até um tanque destrói.
De vez em quando lembrava-me de ir ao Jamor fazer o circuito de manutenção, sempre a andar, e no final dava uma volta à pista a correr. Acabava completamente estoirado e a meio da volta já só suplicava pelo seu fim. Esses 400 metros eram infindáveis!
Ora cada vez que lá ia, a próxima demorava um, dois, três meses... 
Até que nesse referido meio de 2005, decidi ser mais constante e experimentei o Passeio Marítimo de Oeiras, forçando-me a ir de 3 em 3 dias.  

Começa a nascer em mim o gosto de correr aquele bocadinho (que pensava ser muito!) e a ansiar a vez seguinte.
Na altura, o Passeio acabava no Saisa, perfazendo 2.300 metros. Ia até onde conseguia, e regressava a andar. 
Foi uma festa quando fiz uma ida completa mas festa maior foi quando cheguei aí, dei a volta e ainda corri mais 700 metros, totalizando 3 km o que me fez sentir uma espécie de super qualquer coisa.

Ao 3º mês consegui ida e volta, 4.600 metros. 4.600 metros, imaginem! Foi a loucura e durante 3 meses contava o número de treinos consecutivos onde conseguia completar a ida e volta. Após 18 seguidos, arrisquei mais 400 metros e completei uma légua.

Estávamos no início de Dezembro e leio no jornal de Oeiras que a câmara edita, a reportagem da Corrida do Tejo.
De imediato comecei a sonhar. E se? 
Mas são 10 km!!! Bom... se de 2 em 2 meses conseguir evoluir 1 km, chego a Outubro apto a realizar os 10 km.
E assim, comecei a mentalizar-me como quem visa os Jogos Olímpicos. 

Mas em Fevereiro, um colega que já me tinha ali visto a correr, oferece-me um folheto da Meia da Ponte, competição que englobava uma Mini. Mini, quer dizer, eram 7.200 metros... mas nessa altura já tinha chegado a 8 km, vamos lá atacar a Ponte. Afinal a estreia iria ser bem mais cedo que Outubro, seria a 26 de Março de 2006.

Que emoções passei! O ir levantar o dorsal (31805, o número mais alto que alguma vez tive mas que irá agora ser batido em Paris pelo 59295), ver a feira, aperceber-me do ambiente e absorver tudo inspiradamente.
Já antes tinha feito o percurso de carro por duas vezes para não ter surpresas no trajecto (notem o grau de preparação!).

Chega o dia, após uma noite pouco dormida pela excitação, e tudo foi novo. O apanhar o comboio. O ouvir o maquinista desejar pelo microfone boa sorte a todos os atletas à chegada ao Pragal. Sentir o ambiente que estava criado. Chegar cedo e ficar lá para a frente da Mini, o que sem na altura saber, foi o melhor pois pude realizar a prova toda a correr. Ver o pessoal da Meia passar do outro lado das grades e admirá-los como super-atletas. Mas... surpresa das surpresas, muitos pareciam "normais" e uns até já eram de certa idade. Como era possível?
(abro aqui um parêntese para elucidar que seguia muito o Atletismo profissional, não perdendo uma transmissão mas não tinha a mínima luz do que se passava nas corridas abertas a todos).

O tempo de espera voou enquanto admirava tudo com olhos bem abertos e deu-se a partida. O meu pensamento foi "estou numa corrida!". Controlei muito bem o andamento para não entrar em euforias nos quilómetros iniciais e lá fui. E fui bem, até chegar à longa recta final. Via o Museu da Electricidade ao fundo e parecia que não se aproximava. Não ia a perder andamento mas começou a custar. O facto de ir com uma camisola de manga comprida e quente (algodão...) debaixo da de manga curta, em nada ajudava (falta de experiência), mas finalmente curvei para a meta. Cortei uma meta, no que foi um momento marcante e recebi uma medalha! O relógio marcava 47.24 para os 7.200 metros (6.35 de média o que na altura foi bem bom).

Feliz da vida, regressei a casa, com a Mafalda a sugerir que depois do banho fossemos almoçar fora para festejar eu ter entrado numa corrida.

Entretanto, na feira tinha recebido um folheto da APAV para uma prova a realizar passadas 2 semanas. Corrida com perto de 10 km. E outro folheto duma prova aberta englobada na Maratona Carlos Lopes com 11 km. Arrisquei as duas. Mas para a de 11, andei a dormir mal com medo da distância. Da distância e de ter que subir aquele viaduto entre Santa Apolónia e o Parque das Nações, subida que mais a via como um Adamastor. Consegui vencê-lo e completar essa prova. E sem dar conta, estava viciado da melhor forma.

Ah! E a tal frase que nunca faria uma Meia-Maratona, foi desmentida um ano depois da estreia, na mesma Ponte. Foi a primeira Meia duma relação que contabiliza agora 40.

Foi há 9 anos. E tanto se passou! 

Só estilo! :)
  

21 comentários:

  1. Essa foto está qualquer coisa eheheh

    Bem é realmente engraçado ver que todos temos uma boa história antes de começar a correr :) só de pensar que nem à cinco anos conseguia acompanhar a minha namorada... a andar! Custa só de pensar nisso.

    Um abraço João

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    1. Tu que voas a correr, não conseguias acompanhar a namorada a andar?!?
      Devias contar essa história.

      Um abraço

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    2. Embora já tenha um post no inicio do meu blog sobre um pouco da minha história, talvez agora faça sentido relembrar mais alguns pormenores desta caminhada :)

      Abraço

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  2. Muito bom :):) ....espero que esta tua história possa ajudar outras pessoas, que tal como tu à 9 anos atrás, gostariam de experimentar correr (ou outro desporto qualquer) e não o fazem por acharem impossível, terem vergonha, falta de coragem, etc....é preciso dar o primeiro passo, e insistir um bocadinho...todo o resto vem naturalmente depois do bichinho se entrenhar....tu és o exemplo que é possível.
    Aquele "cabeludo" que está nestas fotografias estava longe de imaginar o que viria a conseguir na corrida, a inspiração que viria a ser para muitos e muitos outros atletas de pelotão que seguem o blogue e a importância para o atletismo português em geral com as suas estatísticas espectaculares.
    E isto tudo "apenas" em 9 anos....
    Grande João....aquele abraço

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    1. Sim, Carlos, se se analisasse a minha forma física em 2005, nunca ninguém daria a mais pequena hipótese que me tornasse maratonista...
      Obrigado pelas tuas palavras!
      Um abraço

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  3. PARABÉNS!
    EXCELENTE!
    Mas....
    Cuidado com as convicções
    "Eu que, na semana anterior à estreia, respondi a um colega que me questionou se ia à Meia ou Mini: "Mini! Meia não faço nem nunca farei!" E acreditem que foi dito com toda a convicção. Na altura, 10 quilómetros pareciam-me o limite dos limites para um "ser humano normal" como eu. 21 só para super-atletas e 42 reservado a ETs!"
    [Cada vez me faltam mais as forças mas enquanto houver um restinho de Jorge Branco de vez enquanto lá me meto contigo! Esta-me no sangue e a ajuda-me a sentir-me vivo! :) ]
    42,195 ABRAÇOS (Já te disse que és o meu Maratonista preferido?. Calos Cardoso e outro nada de ciumes que vocês são os meus Ultra Maratonista preferidos!)

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    1. Obrigado Jorge!
      O teu maratonista preferido corre na liga dos últimos, mas o clube do meu coração também joga na liga dos últimos :)

      Um abraço :)

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    2. Não sou ciumento, e "perder" para o João Lima não é vergonha nenhuma :):):)
      Aquele abraço

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  4. Parabéns João pela decisão que tomaste ao enveredar nas corridas, que te reservaram algumas supresas!
    No meu retorno à corrida também me lembro de me convidarem para uma prova de 10 km e eu responder que era muito!
    Continua!

    Gostei da foto, e claro, do cabelo à metaleiro! :)
    Up the Irons! :)

    Abraço

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  5. Que espetaculo.. A minha primeira prova também foi nesta ponte, mas atirei-me de cabeça à meia! Penso que em 2004 ou 2005. Cometi tantos, mas tantos erros eheh A diferença é que cheguei completamente esgotado, mesmo ao ponto de não conseguir dar 2 passos seguidos! Foi horrível! ... demorei mais ou menos 2 dias até me inscrever noutra ehehe

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    1. Eh eh!
      Mas olha, nunca vi tanta gente a ser assistida perto do fim como este ano. Cheira-me que havia lá muita gente sem experiência e quilómetros para a distância e que foi sem estar preparada.

      Um abraço!

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    2. Este teu post fez-me ir revirar os resultados da Meia de Lisboa e lá me encontrei! Foi mesmo em 2005, há 10 anos! 2h10, depois de passar aos 10km com 50 minutos. Devia achar que eram só 12km ehehe

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    3. Deve ter sido um daqueles estoiros que se ouviu na outra banda! :)

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  6. Muito bom! Venham mais nove... ou noventa. ;)

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    1. Noventa... deixa-me fazer contas... terei 145 anos... hum... quem sabe?!? (ih ih ih)

      Um abraço

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  7. E em 9 anos o tanto que já conquistaste!
    És um grande atleta a todos os níveis, mas principalmente a nível de solidariedade, amizade e humildade.

    Este vício saudável só nos faz é bem a todos.
    Que continues a correr por muitos muitos anos e a espalhar alegria pelo pelotão.

    Beijinhos grandes amigo

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    1. Muito obrigado, amiga, pelas tuas palavras.

      E agora imagina tu, em relação ao número que falámos ontem, em quanto irás quando fizeres 9 anos de corridas :)

      Beijinhos e força para este restinho que falta! :)

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  8. Bom, o estilo é TOP!!! Cabelinho comprido... Ficava-te bem!
    Destaco do teu relato a emoção das primeiras provas. O sentimento de nervoso miudinho, que tentamos desvalorizar (porque afinal é só uma corrida e nem sequer vamos competir 'à séria') mas que nos consome por dentro. Recordo-me bem das minhas primeiras e com saudades. Muitas...

    Beijinhos e parabéns por esse fantástico CV :)

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