Aquando da construção da CREL (A9), foi descoberto na zona de Carenque uma área com cerca de duas centenas de pegadas de dinossauros, donde se salienta um trilho com 132 metros de comprimento com marcas subcirculares entre 50 a 60 centímetros de diâmetro, atribuídas a um dinossauro bípede. Na altura foi considerado o maior trilho contínuo na Europa. O chão que suporta estas pegadas corresponde ao topo de uma delgada camada de calcário do Cretácio, com cerca de 95 milhões de anos.
Na altura, tal obrigou à criação dum túnel mas, lamentavelmente, este monumento histórico não tem tido a preservação que merece.
Foi muito badalado na comunicação social mas, com a voragem de notícias frescas, ficou esquecido, sendo bom que haja entidades que não o deixam morrer no esquecimento.
É o caso de Luís Jesus que utiliza um dinossauro para símbolo da sua Jesus Events e que ao organizar a prova do Troféu de Sintra através do clube a que preside, a Associação Atlética do Pego Longo, intitulou-a de Trilho dos Dinossauros.
E foi à 2ª edição desta corrida que eu, em boa hora, desloquei-me hoje, movido pela curiosidade do percurso.
É sabido que a relação das minhas 220 anteriores provas são dominadas na sua grande maioria por provas de estrada, mas também é conhecido que, apesar de ser um atleta lento, gosto de percursos selectivos e exigentes.
Não gosto é de descidas, em especial se estiverem molhadas (a única marca que me ficou da fractura do pé).
Chegado ao Bairro do Pego Longo, respirava-se o ar saudável dum dia de corridas. Muito e boa gente conhecida e algumas avisavam que o percurso estava enlameado. Algo que eu desconfiava mas sem imaginar o quanto.
Uma carga de água aqui, outra ali mas nada de especial até 5 minutos antes da partida. Aí, e apesar do organizador ser Jesus, São Pedro castigou todos com uma valente e forte carga de água, bem gelada diga-se a propósito, chuva que perduraria nos primeiros 10 minutos de competição.
Dada a partida, gelado, foi só tempo de correr uns 300 metros e entrar na parte de terra, ou mergulhar literalmente os pés na lama que cobria toda essa parte. Confesso que assustei-me um pouco e pensei "Como é que vou fazer 8 quilómetros assim?" Mas o susto passou e deu lugar à vontade de "Estou aqui, é para se fazer!".
E assim foi, entrei numa prova sem tempo para ver tempos nem distância percorrida ou a percorrer, pois a concentração era toda para onde colocava os pés e vencia os obstáculos.
As subidas, algumas bem duras, lá se faziam no melhor que podia dar, o problema era o jogo de sobrevivência nas descidas. Se tenho um certo receio de descidas com o alcatrão molhado, o que dizer de descidas alagadas em lama? E não esquecer que não tenho sapatos de trilhos mas apenas de alcatrão, parecendo nalgumas vezes estar numa pista de patinagem.
A concentração foi total e todos os obstáculos eram para ser derrubados, sem quebra alguma (ou sem espaço para poder ter quebras).
A recompensa veio no fim, ao cortar a meta, inteirinho da silva, sem nunca ter caído (e por 3 vezes nem sei como me equilibrei à justa!) e sem lesões. Marquei 8.150 metros dos 8.000 (não é para admirar a diferença pois muitas vezes tinha que se andar para o lado), em 53.02, média de 6.30
Em condições normais este tempo seria muito mau mas neste caso foi muito bom, tendo acabado com a consciência de que dei sempre o meu melhor a cada momento. E quando em várias ocasiões os pés enterravam-se na lama, não se pode estabelecer qualquer comparação com provas cujo piso parece a melhor auto-estrada em relação a este.
No final, satisfeito e feliz, ao passar pelo Luís Jesus, disse-lhe o que levava na alma "Prova muito dura mas muito gira!"
Para o ano conto regressar mas, de preferência com o piso seco para desfrutar de todo o bonito e cativante ambiente.
(Vou contar-te um segredo aqui que ninguém nos ouve: fui eu que encomendei essa valente chuvada ao São Pedro! Sou muito mau!).
ResponderExcluirQuando à dureza da prova eu estive o dia todo de ontem a acompanhar o Ultra Trail da Serra de São Mamede via net por isso não me falem sobre a dureza das provas!
Não há provas duras a gente é que as vezes está muito macio!
P.S. Tinha sido uma boa prova para eu ganhar ao Torpedo Amarelo com o meus trabuco 4X$
João Lima,
ResponderExcluirSubscrevo todo texto, comigo aconteceu o mesmo!
Parecia quando se está grávida e temos medo do parto.... é dificil mas depois passa e ficamos muito felizes por ter aquela experiência.... mal comparado, claro… hehehehehe
e a esse Senhor dos segredos (do comentário acima) … na próxima prova rogo-lhe uma chuvada igual :-))))
Obrigada pelas fotos e até uma próxima