quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Não há Maratonas iguais

Se não há corridas iguais, embora muitas se assemelhem, em Maratonas cada uma é uma específica e nada é igual, tanto no antes, durante ou depois.

A 10 dias de estar presente pela 4ª vez na partida duma Maratona, esperando que seja a minha 3ª meta conquistada, tempo para um pequeno balanço comparativo entre cada, para saltar à vista a diferença que houve em cada uma e a completa incógnita que será o dia 2



1ª Maratona - Maratona Cidade de Lisboa - 2012/12/09 - 5:02.13



Preparação - Quis realizar uma pré-preparação antes dos 3 meses da ordem mas tal não sucedeu pelo complicado período que foi o internamento e posterior falecimento do meu pai.
Foi com esse choque e uma série de assuntos a resolver que iniciei a preparação. Segui à risca o plano e cheguei ao dia com a consciência que o trabalho estava feito. Naturalmente sem saber se seria o suficiente por nunca ter enfrentado a distância.

Dias antes - Muito nervoso dois dias antes e na véspera sentia-me a tremer dos pés à cabeça. No entanto apenas dormi mal na última noite.
Já no local da partida, cheguei a ter um momento de pânico mas reprimido.

Condições atmosféricas - Melhor era impossível. Dia bonito, sem vento, sem humidade e 10 graus de temperatura. Condições ideais

Durante - Muito tenso nos primeiros 5 km. De repente, senti toda a tensão a desaparecer e entre os 5 e os 30 foi uma prova maravilhosa. Senti-me muito bem e feliz. Até que disse "Penso que estou a começar a entrar em crise". 200 metros depois, pumba! Bati de frente no muro. Estive uns 2 a 3 km até recuperar do muro e depois do conseguir, já não havia mais energia e tive que ir gerindo a crise até à chegada. Ao entrar no Estádio 1º de Maio, para os últimos 200 metros, senti uma leveza como se estivesse a correr nas nuvens.

Após - Tanto tentei imaginar qual seria a minha reacção na meta, imaginado sempre que me iria "desfazer" mas foi uma sensação tão forte que... fiquei sem reacção! As pessoas à minha volta exultavam, tinham sorrisos de orelha a orelha e eu... nem reagia! É o que cientificamente se chama de "fiquei parvo de todo!" :)


2ª Maratona - Rock'n'Roll Maratona de Lisboa - 2013/10/06 - Desisti aos 15,5 km



Preparação - Uma preparação feita sem o mínimo percalço, muito bem delineada e orientada para as difíceis condições de calor, chegando a fazer um treino de 24 km à hora do almoço com 40 graus.
Foi a Maratona onde estive, de longe, melhor preparado.

Dias antes - Calmo. A única preocupação era poder ajudar o melhor possível a Isa na sua estreia na distância. A última noite dormi razoavelmente bem e já no local da partida sentia apenas a excitação própria do evento mas estava calmo para a ocasião.

Condições atmosféricas - Muito calor e partida dada a hora impensável (10.05)

Durante - Um completo desastre. Desde o tiro da partida que sentia as pernas sem qualquer energia e uma muito má indisposição. Pensei que fosse atenuando com os quilómetros mas só iam piorando. Aos 9 km andei pela primeira vez. Retomava para mais à frente andar mais um pouco. Cada passada tornou-se insuportável mas insuportável estava a ser o estar a estragar a prova da Isa e ter a consciência que não ia aguentar mais.
Aos 15,5 km tive o momento mais doloroso de sempre na minha carreira nas corridas ao ter que desistir. O meu estado foi provocado por ter saltado a hérnia do hiato, o que provocou a libertação de todos aqueles ácidos que funcionaram como uma espécie de veneno. O ter chegado até aos 15,5 foi fruto da minha imensa vontade mas há alturas que a mente não consegue superar tudo, se o corpo está envenenado.
Demorei muito a recuperar psicologicamente desse momento, passei momentos difíceis nas semanas seguintes mas aprendi a ter que conviver com esse momento que deixou , no entanto, marca.



3ª Maratona (2ª concluída) - Maratona de Sevilha - 2014/02/23 - 5:07.59



Preparação - Uma infecção pulmonar, que me fez ficar para sempre com bronquiectasias, a 43 dias da Maratona, deitou tudo abaixo, obrigando-me a dias de paragem e com a perspectiva de não poder estar presente. Nesses dias, nem uma simples subida a andar aguentava. Quando recomecei a treinar, a um mês, a resistência tinha-se evaporado. Só a minha mania de fazer tudo que esteja ao meu alcance para lutar por um sonho é que me fez prosseguir quando tudo indicava o contrário.
Após a desistência forçada na anterior, ia para Sevilha sem preparação.

Dias antes - Últimas 6 noites a dormir um máximo de 3 a 4 horas. A última noite em branco e em constante sofrimento por me aperceber que estava a horas de partir para uma prova que tanto tinha sonhado e com a consciência que não estava preparado. E como se sabe, em maratonas não há milagres. Não há?!?
Entretanto, ao pequeno almoço estava completamente derrotado. E uma hora antes da partida, a respirar aquele ar frio, comecei a ficar outro, a inspirar o ambiente dos grandes dias. Comecei a ficar "aquele" João

Condições atmosféricas - Boas. Dia bonito, sem vento nem humidade, frio suportável à partida. Durante a prova a temperatura foi aumentando mas só ficou mais quente perto do final, o que já não afectou.

Durante - Não quis comentar com ninguém a minha táctica pois ela ia contra toda a lógica. Se eu não estava em condições de efectuar a distância, o que fazer? Qualquer um responderia ir o mais devagar possível para não desgastar. Pois... mas o que já tinha decidido era o contrário. Dar o que tinha na primeira Meia para a realizar em 2 horas e muito pouco, ficando assim com quase 4 horas para a 2ª metade. Precisava de não me preocupar com o tempo limite de 6 horas. Ora indo nas calmas, sabia que não teria muita margem caso tivesse alguma crise, que seria possível de acontecer. Se conseguisse os primeiros 21 km como idealizei, ficava com a perspectiva de conseguir dentro do tempo limite, por mais crises que sofresse. A táctica era a primeira Meia como descrevi e a restante com 200 metros a andar e 800 a correr em qualquer quilómetro, pois não sabia como os pulmões poderiam reagir. 
Táctica levada à perfeição na que foi a corrida mais inteligente, emotiva e feliz que já fiz. Aquela que elejo até à data como a corrida da minha vida.

Após - Para dizer a verdade, o após começou a 400 metros da meta quando visualizei a entrada do túnel para o estádio com que sempre tinha sonhado. Para mexer mais comigo, vejo a Sandra e o Nuno aos berros na entrada desse túnel. A partir daqui foi tudo muito emotivo. As tais lágrimas que não caíram na estreia, soltaram-se com juros. A volta de 3/4 à pista foi onde libertei tudo o que ia dentro de mim e foi um momento muito especial e dificilmente repetível. A fotografia que escolhi para esta Maratona, é a minha fotografia preferida das corridas pois só eu sei o que de bom estava ali a passar e viver.



4ª Maratona (3ª concluída?) - Maratona do Porto - 2014/11/02




Preparação - Marcada pelo problema que me afectou durante 2 meses (e que nunca se descobriu a razão ou causa) e que minou a minha resistência. Até final de Setembro foi a somar treino mau com má corrida. O meu grande trunfo foi nunca ter cedido à lógica e remei sempre contra a maré, ciente que só assim poderia ter alguma hipótese. E de repente, tudo mudou, esse trabalho de esforço e sacrifício deu os seus resultados e comecei a melhorar a olhos vistos. Demasiado em cima do acontecimento o que impediu treinos maiores que Meias, indo com esse aspecto em falta mas ciente que tenho toda a motivação e querer para conseguir a minha terceira meta, passar a ser tri-maratonista e escrever nova página desta saga. Uma página necessariamente diferente de todas as outras pois não há Maratonas iguais. 

12 comentários:

  1. No dia 2/11 quer "aquele" João!!! Vai correr bem :)
    Abraço

    P.S. eu que até nem sou de andar muito nervoso, já sinto alguma ansiedade...ontem num treininho que fiz, só me imaginava em diversas situações durante a prova, mas especialmente a subri a Boavista para a meta...tá doido o rapaz....que venha mas é rápido o dia 2 :)

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    1. Há quem faça e vença provas de 100 e 170 km em trilhos e diga que só fica nervoso antes de Maratonas de estrada :)

      Os nervos fazem parte :)

      Um abraço e até lá

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  2. Vá força nas canetas! É só usufrir do treino feito até agora. Vai ser um belo passeio de 42.195km pelas ruas do Porto. Boa sorte!

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  3. Vamo-nos cruzar várias vezes na manhã de dia 2, e irás cortar a meta com o ar triunfal comque o fizeste em Sevilha. ;)
    Abraço.

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    1. Acredito que sim! :)

      Força Tigas para a tua 2ª (em menos dum mês!)

      Um abraço

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  4. Eu que "acompanhei" sempre as tuas maratonas tenho a certeza que vai sair tudo na perfeição!
    Já sabes estarei sempre contigo em pensamento quer corras uma maratona no Porto ou na China!
    Sinto uma felicidade imensa ao pensar que um bocadinho, muito pequenino, das tuas maratonas também tiveram a minha, mais que modesta, ajuda!
    E fico à espera que voltes a correr a Maratona na capital para te ir apoiar ao vivo e a corres!
    Toda a força do mundo Torpedo Amarelo!

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    1. Obrigado Jorge. Deste sempre MUITA ajuda.
      Quanto à capital... 2015 para a grande vingança!

      Um abraço!

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  5. Ou seja, preparação acidentada, sempre por más razões, infelizmente, boa maratona, preparação certinha como um relógio suiço....e...

    Olha, se formos por aí, a minha estreia vai ser um estouro (vai mesmo, só não sei o quê primeiro, o pulmão, as pernas ou o belo do joelho direito que não me anda a dar descanso...).

    Tá quase :)

    Abraço, João

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    1. Tá quase! E a tua estreia vai ser um estouro... na meta! Um estouro de felicidade :)

      Força!!!

      Um abraço

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  6. Padrinho, será a nossa terceira maratona. Não será igual a nenhuma das outras, como dizes, não há maratonas iguais. Mas será uma maratona e uma maratona é sempre especial! :)
    Para além disso vamos ter um fim-de-semana fantástico no Porto carago!!!
    Beijinhos duma afilhada muito orgulhosa das conquistas do seu padrinho

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    1. Muito obrigado pelas tuas palavras e espero poder continuar a orgulhar quem me orgulha tanto :)))

      Beijinhos e força!!!

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