sexta-feira, 24 de novembro de 2017

400 metros: O record que faltava neste biénio


Está a chegar ao fim este ano, o que em matéria de correr para mim significa 13 de Dezembro, e ao olhar para a minha tabela de records na 4ª feira, lembrei-me que neste fantástico biénio 2016/2017 bati todos os meus records em todas as distâncias entre mil metros e Maratona, ficando a faltar, da relação que faço, apenas o de 400 metros, vindo de 2013.

Até 2015 fazia muitas séries de 400 metros, algumas para dar o tudo por tudo, mas desde então que me tenho centrado apenas em séries de mil metros. Daí não fazer esta distância, a clássica volta à pista, há cerca de 2 anos e meio.

Como hoje tinha séries (de mil), logo decidi que iria ver o que estava a valer em 400, sendo que não tenho treinado para esta distância (muito diferente de fazer mil).

Tem sido, como referi, um ciclo de dois anos verdadeiramente de ouro, e nada expectável anteriormente, mas que se deve em exclusivo à possibilidade de ter podido treinar muito mais (recordo que entre 2015 e 2016 aumentei a quilometragem anual em mais de 41% e este ano já o superei). Daí querer acabar em beleza e foquei-me hoje para os 400.

Comecei a aquecer 3 quilómetros, no Passeio Marítimo Caxias-Cruz Quebrada, indo depois para a pista do Centro de Alto Rendimento do Jamor, onde efectuei uma série calma de mil (4.37) seguido de descanso activo a preparar os 400. 

As dúvidas eram as naturais para quem não está treinado para esta volta à pista e tinha idealizado que se aos 100 e/ou 200 visse que a tentativa não estava a resultar, abortava e tentava nova, até um máximo de três. Afinal bastou uma única!

O tempo estava em 1.20,62 efectuado no Estádio Universitário em 1 de Novembro de 2013. 

Arranquei e logo senti que estava "possuído". O tal controlo de tempo aos 100 e aos 200 não fiz pois o foco foi total, não o permitindo, e a sensação era que a coisa ia dar. 
Entrada na recta da meta e a sensação que ia dar o berro a qualquer momento. Coração e pulmões a ameaçarem que se continuasse assim, vinham boca fora. Últimos metros a ter que ir buscar as últimas forças e, finalmente, a meta. Olho para o relógio e... 1.18,70! Quase 2 segundos menos na primeira e única tentativa!

Senti-me muito feliz mas só me apetecia deitar na relva, não o tendo feito por "vergonha". Andei um pouco mas nalgumas passadas as pernas iam-me traindo, pois estavam a tremer pelo esforço. 

Fiquei a interrogar-me como seria se estivesse a treinar para a distância. Mas não posso dar para todas as distâncias!

Como simples curiosidade, se aguentasse essa velocidade durante mil metros (completamente fora de hipótese pois acabei que nem mais um metro), a média dava 3.16,75 por km, o que transposto para 10 km daria 32.47 e 2.18.21 em Maratona. Por outras palavras, em 400 metros que "matei-me" todo, ficava a mais de 15 minutos do record mundial da Maratona... Como é possível que consigam correr os 42.195 a média de 2.54/km?!? Serão super-atletas ou afinal ETs? 

E pronto, agora posso dizer que em todas as 10 distâncias que controlo (Maratona, 30.000, Meia-Maratona, 20.000, 15.000, 10.000, 5.000, 3.000, 1.000 e 400) nunca corri tão rápido como nestes 2 anos. Dos 400 à Maratona! E como bati mais do que uma vez nalgumas distâncias, o total de records nestes 2 anos está em 21. Para comparar, os 2 anos anteriores (2014 e 2015) tiveram 2.

Como é natural, nos primeiros anos, pela natural evolução, batem-se muitos records, que depois começam a rarear. Pois, como parece, não sigo muito o normal...

Um ciclo fabuloso que chega ao fim daqui a menos de 3 semanas. Mas quem sabe se não irei abrir outro quando estiver devidamente recuperado das operações? Há que trabalhar e esforçar e isso, como sabem, não me falta.

Um bom fim-de-semana a todos, de preferência com boas corridas! :)


domingo, 19 de novembro de 2017

No bonito e desafiante Corre Jamor

Antes da corrida

Estive presente na edição inaugural do Corre Jamor em 2010, na altura ainda com partida e chegada fora da pista do Estádio Nacional e, tal como nos 2 anos seguintes, com 9 quilómetros, que subiu aos 10 desde 2013.

Quis o acaso, que é como quem diz o calendário, que apenas tenha podido regressar este ano. E em boa hora o fiz pois aprecio este traçado que conheço quase de olhos fechados por ser palco de muitos treinos que ali faço, com excepção da zona que passa por cima das bancadas que, naturalmente, está fechada no dia a dia, muito mais o camarote presidencial que também atravessamos.

Decidi que esta prova era para acompanhar a Sofia naquela que foi apenas a sua 3ª prova, 2ª pela equipa, e numa altimetria a que ainda não está habituada.

Quem já me conhece, sabe que para mim é um prazer fazer este tipo de provas. Não o ir a puxar pelo outro mas sim acompanhar lado a lado pois com companhia a coisa faz-se melhor.

O dia esteve bonito (o que não é bom pois devia chover e muito para acabar com esta seca que está a ter efeitos devastadores) e o cenário mais é, aliado ao bom ambiente reinante.
A organização, com a chancela HMS, esteve ao seu nível habitual, muito bom! O percurso bem marcado, elementos da organização em pontos chave, os troncos mais saídos com vermelho fluorescente ou cones e até uma bandeira amarela, ao melhor estilo automobilístico, numa descida potencialmente perigosa. Foi a 2ª vez que vi tal, a primeira foi na outra vez que participei aqui no Corre Jamor.

Na partida
O ritmo foi sempre interessante e ia avisando a Sofia do que aí vinha. O seu record vinha da única prova de 10 km que já tinha realizado, o Tejo, mas é sabido que o Corre Jamor não é competição para marcas devido à especificidade do seu percurso (por outras palavras, dureza). Mas...

O que é certo é que os quilómetros iam passando e eu não queria dizer nada mas via a média a estar melhor que a sua marca do Tejo. E foi perto dos 8 que tive que começar a dar a entender isso, não para pressionar mas sim incentivar, E o giro é que a Sofia dizia sempre que não, que não ia bater, mais por lhe custar a acreditar que neste traçado fosse fazer melhor que no Tejo.

O que é certo é que chegámos ao último quilómetro e começou a dar o tudo por tudo (bem prometeu que não ia deixar nada para dar) e estes últimos mil metros foram de longe os mais rápidos, cortando assim a meta com 1.08.30 (eu 1.08.29), menos 3 minutos que o seu anterior record. 
Uma manhã muito agradável que não podia ter terminado melhor!

Estas duas semanas pós Maratona do Porto têm sido muito positivas, a recuperação decorreu melhor do que pensava, e estou agora a duas semanas dum dos dois últimos objectivos do ano, a Meia dos Descobrimentos. Gostava muito de tornar a baixar das 2 horas mas também ambiciono em registar a segunda melhor marca de sempre. Está em 1.56.17. O record, sendo quase 4 minutos melhor que a 2ª marca (1.52.38) parece-me improvável mas se estiver naqueles dias, não vou descurar a hipótese. 
Mais do que a condição física, interessa é não estar como me tem sucedido algumas vezes nos últimos tempos em que estou com a visão desatinada, e isso é que condiciona.
Uma semana depois, o Grande Prémio do Natal onde seria bonito comemorar o 1º ano em que baixei dos 50 aos 10 , após 10 anos de luta, com a minha 5ª vez abaixo dos 50. Como na Meia, vamos esperar que esteja tudo bem nesse dia. Para mais porque vai ser a última corrida até, em princípio, 2º quinzena de Março. A meio de Dezembro sou operado à vista direita e à esquerda a meio de Janeiro.

Antes de terminar, uma curiosidade estatística. Como decerto se recordarão, o ano que tinha mais quilómetros efectuados era 2015 com 1.556 km, valor esmagado em 2016 onde corri 2.204 km (um aumento de quilometragem de mais de 40%). Pois esta semana, na 5ª feira, vou bater esses 2.204, quando ainda ficam a faltar 39 dias para o ano terminar. Como só poderei correr até 13 de Dezembro, deverei terminar o ano com 2.300 e tal

Uma boa semana a todos!




Após a corrida

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Porto: A minha nona Maratona!

Um trio muito feliz após cortar a meta!

A rotunda da Anémona já tinha ficado para trás, íamos a meio caminho de cortar para o Queimódromo. Os aplausos intensificam-se pela maior concentração de espectadores, a maioria à espera dos seus familiares ou amigos. Cortamos à direita e entramos no Queimódromo. A placa 42 estava ultrapassada, faltavam os 195 metros mais felizes que uma Maratona possui. Curvamos à esquerda e vemos aquilo que todos ambicionam a partir do momento que se inscrevem. Está ali à frente, a sorrir para nós. Até lá, passamos pelas habituais majoretes que nos saúdam, bem como o locutor de serviço. Erguemos os braços, damos as mãos e cortamos a meta, sentindo com todo o orgulho a explodir dentro de nós a palavra FEITA!  

E são estes os momentos porque lutamos meses a fio e que se colam a nós e nunca mais nos largam! Foi para isto que tanto se luta, tanto esforço se aplica.

Para quem dizia que queria apenas fazer uma, não vou mal lançado, não senhor! 
Uma Maratona é uma paixão que nos toma de assalto. Não é uma simples prova, é um objectivo que se vive, respira e sonha durante largos meses para no dia esperar que nada emperre a máquina pois um pequeno pormenor pode deitar por terra todo o trabalho que se fez, pela amplitude que ganha numa distância dessa dimensão.

Felizmente não houve qualquer problema que impedisse o sonho da nona meta, a contrariedade que apareceu deu para contornar e alcançar o objectivo a que sempre me propus, passar aquela linha branca. São poucos centímetros de largura mas representam o final de tanto esforço. 

E tudo podia ter ficado em cacos pouco depois da passagem da Meia, numa altura de empedrado em frente às caves de Gaia. Para fugir ao empedrado, muitos correram no passeio. Quis manter o trajecto original (eu e poucos mais) e bati com o pé num buraco por falta duma pedra, indo com o corpo todo inclinado para a frente, cara a dirigir-se ao chão. Uma queda ali, e de cara (ainda por cima com óculos) não seria nada bom mas, nem sei como, consegui alargar a passada e reequilibrar o corpo. "Eh lá!" foi o que alguns atletas, que já vinham do retorno, gritaram, assustados com a cena que, felizmente, acabou bem e permitiu-me continuar rumo à meta. Fiz um "glup", pois deu para assustar, mas logo retomei o ritmo que trazia.

Os 4 atletas dos 4 ao Km presentes (eu, Orlando, Isa e Vitor)
Foi a minha 3ª presença no Porto (2014 - 2016 - 2017) e a satisfação sobre todos os aspectos da Maratona é novamente total. Uma organização muito profissional, cuidada e uma atenção muito especial ao atleta.

E nessa atenção é de destacar a sempre tão entusiasta Aurora Cunha e os seus incansáveis incentivos. 
Em 2014 acompanhou-me nos últimos metros, este ano deu para dar um chapa ao 5º km. Grande exemplo duma campeã mundial!

Além de tudo o que há de bom no Porto, também os muitos amigos que se vêm raramente pela distância. E o sábado à noite ficou marcado por um alegre convívio ao jantar com o Papa Kilometros, atleta muito especial no pelotão por toda a sua maneira de ser. Um exemplo e uma inspiração!

E já antes, ao almoço, mais uma excelente massa na melhor Pasta Party que conheço. O Norte é bem conhecido pela excelência da sua comida, e esta Pasta Party bem o demonstra aos muitos estrangeiros presentes.

A ir para Matosinhos (Km 6)
No domingo acordei às 3.30 e não mais dormi, o que é habitual para mim em dia de Maratona (e comparado com algumas até nem foi mau) mas como nas noites anteriores dormi bem, nenhum problema. Entretive-me até à hora dos preparativos a ler mais alguns capítulos do "Origem" de Dan Brown.

As condições atmosféricas estavam boas para a corrida (apenas nos últimos 3 quilómetros o vento foi forte), o ambiente óptimo, o trabalho tinha sido bem feito. Venha a partida!

A vir de Matosinhos (Km 12)
São sempre momentos de emoção muito especial. Na primeira os nervos só se dissiparam ao 5º quilómetro, actualmente desaparecem de imediato ao iniciar a marcha.

Sabia bem o ritmo que deveria adoptar e assim o fiz. Com aquela sensação que poderia ir mais rápido mas... nada disso! Uma Maratona são 12 quilómetros após 30 de aquecimento e no aquecimento não podemos colocar nada em perigo.

A constante boa disposição (aqui com um terço, Km 14)
O pelotão foi muito compacto até ao km 14 (altura da separação Maratona/Family Race de 15 Km) e nessa fase fui cerca de 7 quilómetros na companhia do João Martins, o que foi muito bom e a quem agradeço.

Passado o Castelo do Queijo, fiquei sozinho e com o pelotão espaçado após se ter esvaziado da Family Race. Continuei entretido a saborear todos os momentos que uma Maratona proporciona e a respirar a bela paisagem do Douro.

Nessa fase, aconteceu um episódio divertido. Ia de certa forma isolado, quando vi uma rapariga com um cartaz na mão a dizer "Se estás a correr sem cuecas, sorri!". Claro que me ri ao ler o cartaz o que fez com que me apontasse o dedo a gritar divertida "Estás-te a rir, estás a correr sem cuecas!". A boa imaginação do público é também sempre uma nota especial numa Maratona!

A conferir o tempo ao passar no Km 20
Na zona da Ribeira, Ponte D.Luís, muito e entusiástico público! Passagem para a outra margem e logo de seguida o controlo da Meia. Metade feita, sensações muito boas. Segue!

Deu-se então o tal susto que não passou disso e em nada influenciou o resto e na Afurada o retorno para logo de seguida os 25. Na altura era impressionante como os quilómetros se sucediam e o tempo de cada era quase inalterado, ao melhor estilo de relógio suiço.

Novamente a regressar à Ponte (aquela subida aos 29 e em empedrado, dói!), passagem na Ponte e praticamente a chegar aos 30. 

Sentia as pernas bem, a respiração óptima, o tempo estava em linha com o que tinha feito em Sevilha em Fevereiro, tudo parecia bem... mas não estava. 

Aos 27 tinha começado uma sensação que agora, quase aos 30, estava a ficar difícil de controlar.
Como muitos sabem, ando com um problema visual (mais um, além do que já tenho há 5 anos, as chamadas moscas volantes). Este problema são cataratas em ambas as vistas e estão a galopar. Vou ser operado em Dezembro (o que implicará uma paragem de 2 a 2 meses e meio se tudo correr bem). 
Ora uma vista, a direita que vai ser a primeira a ser operada, está com a visão abaixo dos 50% o que obriga a outra a compensar. Essa outra é a que tem mais moscas. Todo esse processo de sobreposição e de ver coisas dum lado para o outro, provoca um desgaste mental, o que faz com que às vezes o cérebro entre em "loop". Foi o que aconteceu. Comecei a ter impressões alarmantes em virtude da vista e o único remédio era baixar drasticamente o andamento. Convinha mesmo era andar um pouco para estabilizar, o que aproveitei estar no reabastecimento dos 30. Sabia que a partir do momento que andasse, era a chamada "morte do artista" pois enquanto vamos naquele ritmo certo e constante tudo decorre bem, a partir do momento que esse tal ritmo é abanado, tudo se complica.

Mas nem houve qualquer hesitação em relação ao que deveria fazer. O meu objectivo sempre foi o terminar e não valia a pena, de maneira alguma, arriscar qualquer eventual problema, especialmente com um sentido tão fundamental como a vista. 

Passei então a gerir a corrida no chamado modo de sobrevivência que me levasse à meta.

Claro que pode ser um pouco frustrante sentir, por exemplo, a respiração tão boa (quem falasse comigo nem acreditaria que estava numa Maratona) e a ter que gerir mas posso garantir que não houve qualquer sentimento de frustração. Apenas um objectivo bem concreto: Meta!

Pouco depois do túnel, a 8 quilómetros da chegada, fui alcançado pela Isa e Vítor que estavam a gerir a Maratona e se estavam a comportar de forma magnífica, tendo em conta todas as limitações na preparação (que praticamente não puderam ter) para esta prova.

Fomos assim divertidos e felizes os 3 até à meta. Naquela longa e penosa recta (e um pouco a subir) aos 39 e 40 km, e na altura que o vento estava de frente e forte, e dado que essa avenida tem passadeiras de x em x metros, adoptámos a táctica de chegar a uma passadeira e andar até à próxima. Ao chegar a essa próxima arrancar até à seguinte, e quando demos por nós estávamos no Castelo do Queijo e a cheirar a meta. 

Meta em frente!

Já na passadeira vermelha

META! Tempo de chip 5.16.04

Momentos inesquecíveis!!!
O resto já foi descrito lá em cima e é sempre um momento único e tão especial! 

O medalheiro com as 9
É com muita felicidade e orgulho que olho para as medalhas de Maratonas e vejo 9. Quem diria que chegaria aqui?!? 

A décima, e se tudo correr bem, será apenas daqui a um ano. Tenho andado a fazer uma Maratona na primavera e outra no outono mas, pelas razões acima descritas, na próxima primavera não é possível.
Se tudo seguir como planeado, será a Maratona de Valência! E mal posso esperar!!!

Não quero terminar sem referir que a dois dias da Maratona tomei conhecimento dum problema de saúde dum amigo e que esta Maratona foi dedicada à sua recuperação. Força Egas!!! 

Muito obrigado a todos pelas mensagens de incentivo. Corro com todas elas no coração!