Há 4 meses atrás, mostrava aqui as 100 medalhas que recebi nas mais diversas provas de Atletismo (todas de participação), número que actualmente está nos 108.
A elas juntam-se 5 outras ganhas no Karting, aqui já por lugar e não participação, conquistadas por volta da mudança do milénio.
Mas duas há que têm muito mais tempo e uma história, digamos, caricata.
Recentemente a minha mãe foi descobri-las, bem como recordar as suas "incidências".
Estamos em 1963. Tomar, cidade do interior, onde grande parte das crianças ficavam com as mães, na altura não trabalhadoras, até irem para a escola primária. E era essa a altura onde as coisas começavam, sem a experiência dos infantários para adaptação, como hoje sucede.
A minha irmã, mais velha 4 anos, começou a frequentar aulas de ginástica. Todos estavam na primária mas, como a minha mãe tinha que levar a minha irmã, porque não levar o puto de 3 anos? Lá autorizaram, e eu lá fui fazendo as cambalhotas e a chamada ginástica sueca.
A coisa foi rolando e no final da época, 1964 e já com 4 anitos, o inevitável sarau de fim de ano.
Parece que durante as aulas comportava-me satisfatoriamente, num ginásio sem mais ninguém a não ser os restantes ginastas e o professor. Mas num sarau? Feito num enorme salão duma sociedade e completamente ladeado por cadeiras com os familiares dos ginastas? Com um rapazinho de 4 anitos que quando estava envergonhado dava-lhe para o disparate?
Pois. O sarau transformou-se numas duas dezenas de ginastas aplicados na sua tarefa e numa mascote da turma a fazer rir todo o público presente! O professor mandava deitar e eu ficava em pé ainda abismado a olhar para todo aquele aparato do público. Quando me apercebia que os outros estavam deitados, lá me estendia na altura que todos (teriam espírito de contradição?) já estavam em pé.
O público começou a não tirar olhos do rapazito que fazia tudo ao contrário e os meus pais embaraçados com a actuação do petiz, até acharem que o melhor seria alinhar pelos outros e rirem-se também.
E foi assim que no final deram uma medalha a todos os ginastas presentes, inclusive ao palhacito de serviço que recebeu a maior ovação do sábio público presente, apesar do ar de poucos amigos do professor.
Apesar de tudo, continuei no ano seguinte na ginástica. e sempre a cumprir com o pedido. Mas como tudo o que é bom acaba, lá chega o final do ano e, imaginem, novo sarau.
O professor chegou a ponderar que eu não ia mas lá entendeu o contrário e toca de me presentear com uma série de conselhos (palavra mais suave que avisos) para eu me portar como "um homenzinho", agora que já tinha 5 anos (exigia-se muito que as crianças se comportassem como adultos em miniatura). Claro está que até à hora de entrada em cena, recebi um número incontável de pedidos dos meus pais para deste vez me comportar dignamente.
Lá nos equipámos a rigor para a época (sapatilhas brancas, meias brancas, calções brancos e camisola, para variar, branca). Mas o que me deu na altura? Como recentemente tinha feito anos e tinha recebido um carrinho da Matchbox daqueles à escala 1/64 que não o largava, e como não o queria deixar sozinho no balneário (para não pensar que tivesse sido abandonado...), toca de o esconder entre os calções e levá-lo .
Ora, o não gostar de ser pressionado não é de agora, já nasceu comigo. E tanto ouvi antes do sarau que ao entrar em acção, desliguei e fechei-me comigo próprio. Lá bem no meio dos atarefados ginastas em grandes exibições, estava o rapazolas estendido no meio do chão a brincar com o carrinho e até a fazer "brum, brum" para dar mais realismo às viagens que o carrinho fez naquele belo chão transformado em estradas de evasão.
Mais risos, os meus pais mais vermelhos, mais uma cara de pau do professor a ter que dar uma medalha àquele miúdo terrível, e o fim da minha (muito promissora) carreira de ginástica pois não regressei no ano seguinte, até porque tinha sido decidido só autorizar alunos com mais de 6 anos (até fiz mudar regras!).
E pronto, foi essa a história recordada ao reaver as famosas medalhinhas e que aqui partilhei.