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Antes da partida, com o Vitor e Isa que foram à Meia |
Portugal tem uma nova Maratona. E quão promissora é, pelo revelado nesta edição de estreia!
Com uma muito esforçada organização que em poucos meses montou um evento desta dimensão com 4 provas (Maratona, Meia-Maratona, Mini e Caminhada), servida por uma bela cidade como Aveiro (bela e com uma doçaria de chorar por mais...), público participativo, tudo há para elevar esta Maratona para um patamar superior.
O percurso é desafiante, onde se realçam as passagens pelo centro da cidade, Gafanha da Nazaré e Praia da Barra, com as ruas a terem um nível de público muito superior ao habitual no nosso país. O desafio prende-se com as partes desertas entre as localidades e a subida, dum lado e outro, para a Ponte da Barra.
Só não apreciei totalmente os últimos 3 ou 4 km. É bonito passar-se pela Universidade mas estamos a falar dum espaço vazio ao domingo. Julgo ser preferível esses quilómetros irem pelo centro da cidade para termos novamente apoio, que tão bem sabe nessa parte crítica da distância.
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2 dias antes, com o dorsal na mão |
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A verde ao centro, uma frase de apoio à equipa! |
Que há um ou outro pormenor a alterar, claro que há, mas isso sucede em todas as Maratonas, mesmo aquelas com dezenas de edições. Ora mais facilmente acontece numa de primeira edição e que não teve um ano para se preparar.
Em resumo, nota muito positiva e uma Maratona a regressar. Só não será em 2020 pois nesse 26 de Abril já tenho tudo combinado para completar o quarteto das 4 maiores Maratonas espanholas com a de Madrid. Mas em 2021 voltarei de certeza.
Falta só falar do que a organização não consegue controlar, condições meteorológicas. Quando chegámos na 5ª feira, Aveiro estava fustigada por uma forte ventania. Ora se ali estava muito vento, nem imagino o que estaria na Barra. Mas o característico vento desta região acalmou e esteve quase inexistente no domingo. Faltava só o previsto calor. E também aí tivemos sorte pois o dia amanheceu com nevoeiro e fresquinho, tendo só ficado calor para o final da prova. Portanto, até isso foi óptimo!
Já aqui tinha confessado os meus receios para esta Maratona. E esses receios mantiveram-se até à hora de partida. Estava nervoso sim (mas em Maratona estou sempre...).
Além dos receios sempre presentes para uma distância desta natura, não sabia as partidas que a parte gástrica (que 4 dias antes esteve em crise) iria provocar, além da dúvida sempre presente do que teria sucedido no último treino de 30 km, realizado 3 semanas antes, com os gémeos a ficarem duma estranha forma como nunca se tinha dado.
Pode-se ser estreante, fazer a 5ª, 12ª ou 40ª Maratona, mas os receios estão sempre no nível mais alto pois não se trata duma corrida, é uma Maratona, com tudo o que implica de esforço, dedicação, vontade, esgotamento, obrigando a irmos buscar o que temos, o que não sabíamos ter e o que não temos.
Como sempre, a noite foi muito pouco dormida. Às 4 já estava bem acordado, o que tem a vantagem de poder fazer os necessários preparativos com toda a calma (calma?!? que calma?!?).
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Antes da corrida, com a mítica placa a 195 metros da meta. Passadas umas horas, nunca poderia estar assim tão fresco quando ali passasse, mas o sorriso haveria de manter-se. Ou melhor, este era de esperança, passadas umas horas seria da certeza de concretização |
A irmos do hotel para a zona de partida/chegada, achámos piada passarmos pela rua Senhor dos Aflitos. Nada mais propício!
Encontramo-nos com a Isa e Vitor, sendo que os 4 ao Km iam estar representados em 3 provas. Eu na Maratona, Isa e Vitor na Meia-Maratona e Mafalda na Caminhada, só faltando ter alguém nos 10 Km.
Muita gente conhecida e o reencontro também com a Inês com quem tinha combinado irmos juntos no início, a ajudarmo-nos mutuamente até algum ir para a frente ou ficar mais atrás.
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Antes da partida, com os bombos atrás |
A pulsação a aumentar nos momentos finais de espera e, finalmente, é dada a partida! Altura de despir os nervos, deixando-os ali no alcatrão, e focar no controlo e gestão da corrida.
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Nos primeiros metros |
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Bem disposto e feliz por estar noutra Maratona |
Volta inicial por Aveiro e tudo bem com os gémeos mas a barriga inchada pelo que tem sido costume ultimamente.
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A descer a Lourenço Peixinho em Aveiro, feliz por rever a Mafalda |
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Um apoio e força muito especial! |
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E lá seguíamos os dois, eu e Inês |
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Sempre bem disposto |
Depois saída no sentido da Gafanha da Nazaré, tudo controlado, ritmo constante e sempre na conversa com a Inês que por volta dos 15 começou a indicar algum cansaço, para aos 16 dizer que tinha de abrandar um pouco e para eu seguir.
Custou-me deixá-la ali mas era o que estava combinado. Para trás ficaram 16 muito agradáveis quilómetros, que mal dei por eles. Agora sozinho a coisa ia começar a custar.
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Últimos metros, nesta fase, com a Inês |
Fui passando por alguns atletas, metendo conversa, incentivando. Um deles era um espanhol que ia a participar na sua 392ª Maratona!!! E eu todo feliz por fazer "apenas" uma dúzia...
Passagem pela Gafanha da Nazaré na longa avenida de 2,5 km, com muita gente a aplaudir. No final da recta, cortar à esquerda em direcção a uma das duas maiores dificuldades da prova, a subida para a Ponte da Barra (a outra dificuldade foi a subida para a mesma ponte no regresso, sendo que desse lado era mais inclinado). O meio da ponte estava com nevoeiro mais forte, tal como a Praia da Barra. Devido ao nevoeiro, não se via a parte de cima do farol mais alto da Europa (62 metros).
Foi aqui, na Barra, que tudo começou a complicar. Ia nos 25 e o peso do inchaço na barriga ia massacrando e chegou a um ponto onde tive que andar um pouco, aproveitando a zona de reabastecimento.
É sabido que tendo que andar um pouco, tudo se complica pois o ritmo certo e mecânico foi interrompido e nada mais será igual para a frente. Altura de começar a gerir.
Aos 30 o sol abriu e começou o calor mas não tão forte como se receava. Também foi por volta desta distância que o inchaço sossegou e pouco mais dificultou. Lá segui para a frente sempre focado na meta.
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Aos 37. "Morto" mas feliz |
Aos 38, já em Aveiro e no caminho que ia dar à Universidade, estava a Fabiana a aplaudir e incentivar entusiasticamente, tendo corrido uns 100 metros ao meu lado o que foi uma força extra. A aproximar-me dela, perguntou-me como estava ao que respondi "morto" mas a rir pois é sempre uma felicidade sentir mais uma meta de Maratona a chegar. Ao pé da Fabiana estava um polícia que, contagiado pela boa disposição da Fabiana, comentou "nunca vi um morto a rir!"
Antes, passei por uma atleta inglesa a quem lhe disse que a maior verdade que descobrimos numa Maratona, é que a matemática não é, como se diz, uma ciência exacta pois nem todos os quilómetros têm mil metros.
Façam uma Maratona e descubram o longo que são os últimos!
Passei a placa dos 39, ao lado da Universidade e logo de seguida vi uma placa com o número 40 mas... do outro lado da estrada e com outra cor pois indicava o edifício 40... Ainda tinha que fazer mais "uns quilómetros" para ir do 39 aos 40.
Desde que tinha deixado a Inês, estava preocupado em como iria ela. Por várias vezes olhava para trás para ver se a via mas nada. E eis que ao passar os 40, oiço qualquer coisa que pareceu um chamamento, olhei e ali vinha ela! Foi adicional de felicidade constatar que estava tudo bem com a Inês que se preparava para terminar a sua 2ª Maratona.
E para quem já tinha 40 km nas pernas, vinha bem. Disse-lhe mais do que uma vez para seguir, pois senti que a estava a prender, mas sempre se recusou dizendo que agora era assim até ao final, rebocando-me até à meta. Muito mas mesmo muito obrigado, Inês!
Aos 41, perto da Catedral, aí está a Fabiana novamente que vai a correr connosco até à curva da meta, sempre cheia de força a incentivar. Não correspondi devidamente pois ia mesmo acabado mas sei que a Fabiana terá compreendido, ela que estava num momento agridoce (nada a ver com a Inês...) pois inscreveu-se para esta Maratona e foi obrigada a adiar o seu sonho de maratonista por lesão. Mas esse dia vai chegar! Muito e muito obrigado Fabiana!
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A 400 metros da meta, lá vamos os dois com a Fabiana quando reencontramos a Mafalda |
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E agora também a Isa e Vitor |
Entrada para um pequeno troço de terra batida com vários pórticos e a placa dos 42, onde estavam a Mafalda, Isa e Vitor, que já tinham acabado a Meia "há anos". Muito e muito obrigado, amigos!
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Aí está a tal placa já em cima retratada |
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Quase na curva para que vai dar à meta, com a Inês a rebocar-me |
Mais força extra, curva à direita e o sonho de todo o maratonista à nossa frente, a meta! Uma tri-campeã mundial vem ao nosso encontro, a enorme Aurora Cunha, e acompanha-nos até cruzarmos a linha mágica.
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Com a grande Aurora Cunha |
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Meta!!!! |
Feita!!! 12ª em 5.12.43. Terminei muito cansado mas imensamente feliz! Altura para os festejos.
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O duo de 16 + 2 km (comigo a mastigar a bela da bifana que nos ofereceram no final) |
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A habitual foto pós-Maratona, a fazer com os dedos o número que já tenho, 12 |
Sou apaixonado pelos ovos moles e na 6ª feira queria comprar uma barrica de ovos mas decidi "se concluir a Maratona, venho aqui comprar uma". E assim foi, à tarde, os quatro 4 ao Km presentes foram a um café e aproveitei para a minha auto-prenda!
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Com a barrica (nham nham) |
Provavelmente pelo que andei, muito calmamente, no resto do dia e depois um belo descanso, a recuperação muscular está a ser, talvez, a melhor de todas as Maratonas. Até ontem, 3ª feira sentia era cansaço geral, o que é absolutamente natural.
Não deixa de ser curioso que os gémeos estiveram sempre impecáveis e após a Maratona sentia-os soltos. Não consigo mesmo entender o que se terá passado há 3 semanas...
Como sempre, após uma Maratona dou uns dias de descanso à corrida, fazendo apenas caminhadas. Na 6ª recomeçarei os treinos e a próxima corrida é daqui a 2 semanas e meia em Alverca, onde sou totalista (é a 5ª edição).
Muito obrigado a todos pelo sempre presente apoio.
Bom resto de boa semana!