Leiria está uma cidade bem bonita e em franco progresso, com muita vida. No ano passado vim a esta Meia-Maratona, 2ª edição volvidos 4 anos após a 1ª com outra organização, e o que escrevi na altura foi que tinha ficado cliente.
Ora, cliente que é cliente, regressa sempre e pude constatar como a organização ainda melhorou mais o evento. Em 2018 o percurso tinha apenas uma pequena porção de metros que não foram de agrado pois dava-se numa zona apertada e com atletas a irem e outros a regressarem. Ciente desse problema, a Atletas.Net alterou esse pequeno troço e tudo ficou perfeito num percurso selectivo qb com passagens pelo centro da cidade, pista do estádio de Leiria (desta vez em cimento pois o tartan foi retirado para colocarem um tapete novo), e a ida pela estrada de Cortes até ao Alqueidão, onde se deu o retorno.
Ao contrário das previsões, não choveu mas o vento esteve forte, nomeadamente de frente entre o km 9 e 14. Fazer o retorno em Alqueidão foi um alívio por deixar de sofrer com o vento.
Muito bom o nível de reabastecimentos, nada mais do que 5! Deram-se aos 4, 8, 12, 16 e meta, com os de 12 e 16 também com banana.
Pena que o número de participantes não tenha sido o que uma prova destas merece mas a concomitância com muitos outros eventos neste fim-de-semana acabou por prejudicar todos. Só a nível de Meias tivemos 5 (Leiria, Ovar, Moita, Esposende e Elvas).
Esta Meia estava inicialmente agendada para o dia 6 mas foi obrigada a adiar uma semana pela realização das eleições.
Mesmo assim, estiveram em competição nas duas vertentes (Meia e 10) perto de 500 atletas, mais os caminhantes e as corridas para crianças.
Esperando que para o ano o calendário seja mais favorável, deixo aqui uma recomendação a todos para experimentarem esta Meia que defino como organização moderna e percurso à antiga, com tudo de bom que cada uma destas duas expressões encerra.
Ainda sobre a organização, e a sua preocupação com os atletas, leiam a história que está no final deste artigo.
A 3 semanas da Maratona do Porto, queria impor um ritmo bom mas sem entrar em loucuras. A marca de 1.58.49 alcançada aqui no ano passado estava completamente fora de equação, devido ao que sucedeu este ano após a violenta queda, e apontava como mínimo exigível abaixo de 2.10, com o muito bom a estar abaixo de 2.06.35 (para quem não estiver a associar, 2.06.35 ainda é média de 6 ao km, 2.06.34 já são 5.59,9)
Devo confessar que, apesar de ser a minha Meia nº 63, estava nervoso antes. Desde a tal queda em Julho, era a primeira vez que ia impor ritmo de corrida durante 21 km.
O início foi entre o cauteloso e o ir chegando ao ritmo pretendido. Como ia sozinho e sem ninguém conhecido ao lado, tentei criar um ponto de mira. À saída do estádio (2 km) reparei em duas raparigas que iam uns 50 metros à minha frente e que seguiam ao ritmo que pretendia e eram fáceis de as marcar pelas cores das camisolas que sobressaíam no pelotão (uma era roxo e a outra um verde azulado ou azul esverdeado, não sei qual predomina).
Elas seguiam certinhas e eu a manter a distância e a regular-me assim num ritmo que considerava bom (isto não podem ser só os campeões a terem lebres ao serviço...)
Ia assim muito bem mas aos 8,5, na rotunda que fazia a divisão Meia/10 km, as minhas lebres involuntárias cortaram para os 10 e fiquei sem referências. Tudo bem, ia lançado e com hipóteses de fazer menos que os 2.06.35, apesar de a coisa estar com muito pouca margem.
Tal como acima referido, deu-se o momento mais difícil entre os 9 e os 14. O percurso até é favorável pois vai descendo de forma muito suave, a paisagem é bonita mas... o vento forte contra foi um adversário duro de roer!
Aguentei-me, conseguindo manter a média, e o retorno, apesar de ser ligeiramente a subir, foi um alívio por não existirem forças invisíveis a tentarem empurrar-nos para trás.
Sempre dentro da média mas com margem presa por arames, cheguei aos 19 e entrei na fase mais difícil pois foi quando comecei a sentir o desgaste/empeno. Aguentei-me como pude para manter a margem. É curioso como há alturas que vamos desgastados e a parecer que estamos a perder velocidade mas depois o relógio desmente, provando que estamos no mesmo ritmo que anteriormente.
Cortei a meta em 2.06.10, objectivo alcançado. "Morto" mas feliz. O cansaço era geral pois ia desde a respiração à parte muscular. Nada que um bom duche no estádio não tenha retemperado.
Foi depois do duche que vi a sms com os resultados que a organização enviou aos participantes e fiquei agradado ao verificar algo que não é nada comum. o ter ficado no top10 no escalão, em 10º. Por um lado podemos dizer que pouco mais eram, mas por outro posso argumentar que estou a escassos meses dos 60 e tive que lutar com jovens de 55, 56 anos :)
E pronto, vai ter início a fase descendente desta preparação. Baixa a carga, aumenta a emoção. Por mais Maratonas que se façam, os nervos são sempre os mesmos!
No regulamento estava explícita a regra do controlo fechar às 2.30 de prova, devido a imperativos de trânsito que tinham que ser cumpridos. No entanto, a organização fez algo especial a um atleta, provando a sua sensibilidade para o esforço de cada um. passo a transcrever as palavras da própria Atletas.Net numa sua publicação no Facebook:
"Mário Bravo é um equatoriano que participou na Meia Maratona de Leiria. Curiosamente nem sequer foi classificado, pois concluíu a sua prova muito para além do fecho de controlo. Atenta, a organização prestou-lhe todo o apoio ao longo do percurso e até o carro cronómetro com a família a bordo voltou para trás para seguir de perto o equatoriano que fazia uma meia maratona pela primeira vez na sua vida. Apesar de praticamente todo o staff e logística visível já terem sido desmobilizados e o trânsito reaberto, Mário queria acabar, nem que tivesse de correr muito lentamente pelos passeios. Assim fez. Rapidamente uma meta foi improvisada para que Mário terminasse. De forma desportiva compreendeu tudo em seu redor e agradeceu à organização, justificando-se: "Queria acabar para mostrar a bandeira do meu país". E o objectivo foi cumprido. É para ele o Prémio Desportivismo da Meia Maratona de Leiria 2019"