1 - Valencia Ciudad del Running
Sorry New York
Entschuldigung Berlin
Désolé Paris
Valencia única ciudad com 5 etiquetas de la IAAF
Esta frase foi um dos anúncios na revista oficial da Maratona, realçando o facto de Valência ser a única cidade do mundo com 5 provas reconhecidas com medalhas da Federação Mundial de Atletismo (IAAF). Desde o ouro à Maratona e Meia-Maratona, ao bronze dos 10 Km integrados na Maratona, aos 10 Km Ibercaja e aos 15 Km nocturnos.
Daí, e com muito e justificado orgulho, por todo o lado se vê a frase "Valencia Ciudad del Running" como se pode constatar pela foto em cima, nas grades personalizadas da prova.
Qual o segredo de Valência?
Haverá várias razões mas julgo que a mais importante alia a envolvência de toda a comunidade com a cultura desportiva espanhola.
E se da referida cultura desportiva estamos falados pelo muito evidente que é, e em claro contraste com a escassa dos seus vizinhos, a envolvência prende-se como todos são chamados a respirar e fazer parte da Maratona.
Este evento é um marco para a cidade e todos os que lá habitam, gerando receitas por visões bem orientadas O retorno desta prova é por cada euro gasto recebem 4,8 de impacto económico.
Em 2017 só a receita turística gerada por corredores e acompanhantes foi de 19.950.272 €. O orçamento da prova cifrou-se em 4.234.021 €, sendo 51% oriundos do mecenato da Fundação Trinidad Alfonso, 26,5% das inscrições, 19% dos patrocinadores e 3,5% do município.
De registar que este ano estavam presentes entre atletas e acompanhantes, 50 mil pessoas de fora de Valência.
A envolvência do comércio e cultura. Recebemos uma pulseira no kit de atleta que permite ter entradas grátis ou a 50% nos museus e diversos descontos em lojas.
E além da paixão natural que os espanhóis nutrem para ir apoiar os atletas, a organização relembra nos meses anteriores, incentivando o público a comparecer.
Há um site onde cada espectador pode registar em que rua ou ruas vai estar a apoiar, o que ajuda os indecisos a terem a noção de que ruas já têm muito público e as que precisam de mais.
A isto, junte-se a competição entre bairros, pela glória de serem escolhidos como o bairro mais apoiante, o que leva a unirem-se e apoiarem ainda mais efusivamente do que já é usual. Inclusive, lá para os trintas, a terem travessas com fatias de tortilha e pizza para quem esteja a necessitar. Tudo responsabilidade e vontade desses bairros.
Se em Paris já tinha achado uma coisa inacreditável o existirem 100 pontos de animação (o que dá uma média de um por cada 420 metros), aqui o anunciado eram 210 mas acabando por ser 230 pontos de animação!
E se a cultura desportiva espanhola já é muito forte, como em cima descrevi, há que trabalhar e reforçar o futuro e, por isso, a organização criou workshops nas escolas que envolveram 10.000 alunos, workshops em si sobre o que é a corrida no geral e Maratona no particular pois, tal como a organização refere, esses serão os atletas e o público de amanhã.
Envolvência e visão!
E nada é deixado ao acaso. Até o simples ciclista que acompanhou a líder feminina. Quem foi? Nada mais que o 5 vezes vencedor da Volta à França. Miguel Indurain! Decididamente, não descuram qualquer pormenor. Como a Pasta Party que em Valência não é Pasta Party mas sim Paella Party, em homenagem ao mundialmente famoso prato originário da cidade.
E se o último quilómetro é arrepiantemente percorrido num corredor com (ainda) mais entusiástico público e placas descendentes de 900, 800, 700 metros até à meta, para recebermos a medalha passamos por outro corredor onde jovens raparigas e rapazes fazem uma festa como se cada um de nós tivesse sido o vencedor. E a verdade é que fomos!
Este corredor mal espaço dá para passarmos entre braços no ar e gritos de alegria. Agora imaginem o que é a explosão de emoções o cortarmos a meta e pouco depois estarmos neste corredor.
Antes, durante e após, fazem-nos sentir campeões!
E com tudo isto, a organização teve a mais que muito merecida recompensa. Além do brilhantismo e sucesso do evento, o bónus de 3 records em terras espanholas.
O melhor tempo jamais feito em solo espanhol, 2.04.31, o melhor tempo feminino jamais feito em Espanha, 2.21.14, e a Maratona mais participada de sempre no país, 19.244 atletas (cortaram a meta 19.485 mas o número apresentado já reflecte a purga dos "corta-caminhos"...)
Com esta marca, Valência passou a ser a 9ª Maratona mais rápida do planeta, subindo de 13º e superando Seul, Nova Iorque, Paris e Liubliana.
Foi uma aposta muito forte da organização a nível de presença de atletas de elite e ajustes de percurso e têm agora o grande objectivo de em 2020 ser tentado o record mundial masculino e em 2021 o feminino (o mítico record de Paula Radcliffe que dura há 15 anos).
2 - Férias!
Já há muito que tínhamos planeado fazer desta viagem umas férias inesquecíveis.
Foram 13 dias por Espanha, perfazendo 2.400 quilómetros de carro, mas com etapas que não excedessem os 300 quilómetros cada.
O roteiro foi:
27 a 28 - Cáceres
28 a 30 - Toledo
30 a 05 - Valência
05 a 08 - Madrid
08 a 09 - Mérida
E se esses foram os locais de estadia, também houve visitas a Badajoz, Segóvia e Talavera de la Reina.
Foram umas férias fantásticas em locais maravilhosos e cheios de história.
Em Valência, tivemos a sempre excelente companhia da Isa e Vítor entre 6ª e domingo.
|
Esta foto diz-me muito pois capta toda a euforia e felicidade a 20 metros da meta! |
3 - A minha tão feliz Maratona
Difícil explicar mas desde a 2ª que não me sentia tão receoso.
Na primeira é fácil de entender o porquê pelo desconhecido Adamastor que tinha à frente. Na segunda que concluí, a infecção pulmonar não dava esperanças credíveis mas sucedeu aí o "Milagre de Sevilha".
Terminei mais 7 e se estou sempre receoso antes (tal como disse há dias, a Maratona tem que ser muito bem respeitada!), nesta os níveis estavam exageradamente receosos.
Razões possíveis? Além das normais, a dúvida de como se iria aguentar o tornozelo, o limite de tempo, o desgaste dos dias anteriores e aquele que considero a maior razão, o não participar em alguma há 13 meses.
Ora mal termino uma, começo logo a pensar na seguinte. E se costumo fazer duas por ano, em 2018 e devido à operação às cataratas, apenas foi possível esta. O que significa que desde que cortei a meta no Porto em Novembro de 2017 até agora, foram 13 meses a pensar, sonhar e idealizar Valência.
O desgaste dos dias anteriores prendia-se com o muito que andámos a pé em Cáceres e Toledo, para aproveitar bem a estadia. Mas afinal este facto nada pesou.
O receio do tempo limite (que era de 5.30 em contraste com as 6 horas das anteriores) tinha a ver se tivesse necessidade de gerir o ritmo caso o tornozelo desse de si muito cedo.
Sábado foi dia de ir à feira levantar o material na fantástica e bela Cidade das Artes e Ciências, magnificamente decorada por Santiago Calatrava.
Levantar o dorsal e aperceber ainda mais da grandiosidade deste evento e organização!
|
É sempre uma emoção e alívio ter o dorsal na mão! Atente-se numa curiosidade. Se o meu número e do Vítor eram seguidos, entre o casal Isa e Vítor a diferença era de exactamente mil números! |
|
Na plataforma flutuante colocada propositadamente para a meta. E este é o único e supremo objectivo. Chegar aqui e cortar a meta! |
Depois de tudo recolhido e a paella bem comida, tempo para regressar ao apartamento que alugámos para tentar descansar o resto da tarde.
Deitar cedo e descansar o corpo pois dormir foi sol de muito pouca dura. Mas isso já sei que é sempre assim em véspera de Maratona. Se até com os campeões sucede o mesmo...
E chegou o dia da prova. O dia do desafio. O dia do tudo ou nada.
A grande dúvida prendia-se com o levar camisola de manga comprida debaixo da camisola da equipa. As previsões apontavam para 20 graus à hora da chegada mas na primeira hora 7 graus.
Saímos do apartamento e como o sol ainda estava noutras paragens, fazia frio a sério.
Vou com. Vou sem. Vou com. Vou sem.
Chegámos ao pórtico da partida e muito tivemos que palmilhar até chegar ao nosso local de partida, a última porta. A partida era às 8.30 para a primeira vaga e depois de 6 em 6 minutos. A nossa foi às 8.54 e pisámos o pórtico de saída às 9 pois estávamos mesmo no final do nosso pelotão.
|
A poucos minutos de iniciar mais uma aventura |
Antes de irmos para a caixa de partida, tinha decidido que ia com a camisola de manga comprida por baixo e quando tivesse calor, tirava e dava à Mafalda ao Km 24 onde iria estar. E decidi porque estava cheio de frio. Tremia mas não era apenas pelo frio mas também pelos nervos e emoção, muita emoção. Emoção essa que não se explica mas quem já esteve num evento destes compreende.
|
Frio ou medo? (eu diria os dois...) |
O pelotão começou a andar a passo até ao pórtico, que ainda estava distante umas largas centenas de metros, e a Mafalda ia acompanhando do lado de lá das grades. Foi aí que tomei uma decisão repentina mas que se veio a revelar muito sensata. Percebi que estávamos numa estrada à sombra e após o pórtico iria estar sol. Tirei a camisola de manga comprida, dei à Mafalda e comecei assim a prova apenas com a camisola da equipa.
Ao segundo quilómetro já estava seguro que tinha sido a melhor opção pois ao sol estava-se bem e passado pouco a temperatura começou a subir, estando mesmo calor no último terço (clima mediterrânico em Dezembro!).
E, como habitualmente, dá-se a metamorfose. Os receios e nervos eclipsaram-se por completo no pórtico de saída e passei a sorver cada segundo, cada metro desta fantástica Maratona.
Estar numa Maratona é para mim uma felicidade difícil de explicar e, quando se apanha um apoio como lá fora tão bem sabem dar, tudo é mais amplificado.
Coloquei um ritmo agradável e confortável e foi seguir, passada após passada, metro após metro, quilómetro após quilómetro.
Curioso como numa Maratona os quilómetros iniciais parecem mais curtos, em nítido e flagrante contraste após os 30.
Bombos, Fallas, músicos, animadores de toda a espécie alegravam mais o caminho, criando o paralelismo de os espectadores serem público e participantes e nós participantes e espectadores do espectáculo que nos oferecem.
O meu ritmo sempre muito certinho, "by the book", e um confortável mais vivo do que pensava.
Passei aos 10, 15, 20, Meia e tornozelo nem vê-lo. Ora o receio de a dor atacar cedo e ter que começar a gerir desde tenra distância, estava dissipado e o tempo limite mais que esquecido.
Aos 24, altura para olhar para uma margem e outra da estrada a tentar descortinar a Mafalda que lá estava e a quem consegui dar um beijo sem parar de correr.
Lá segui, feliz e contente. Até que aos 26,5... tau! Aí está o tornozelo.
Tive que começar a gerir. Esta dor quando aparece é por ondas. Dói um bocado, depois alivia, retoma, alivia, mas inevitavelmente a partir do momento que se interrompe o ritmo certinho que se trazia desde o início, já não se consegue readquirir nos momentos que alivia. Mesmo assim tentei o melhor possível.
Apesar de vir a realizar uma óptima prova que até poderia, marginalmente, bater a minha melhor Maratona (Sevilha 2017 4.41.40), não se pense que me afectou, tendo até reagido de maneira positiva pois, na realidade, o expectável seria ter aparecido significativamente mais cedo e só podia estar agradecido por ter sido já na 2ª metade.
Por volta dos 28 apareceram a Isa e o Vítor e fomos os três juntos por um bocadinho até que depois seguiram por estarem melhores.
Fui gerindo a situação que começou a melhorar por volta dos 38. O apoio intensificava-se, o entusiasmo crescia ainda mais dentro de mim e ao passar pelo pórtico dos 40 saiu-me um festejo de euforia (ver no video em baixo) e isso fez-me entrar noutro patamar pois a dita euforia não mais me largou, muito por "culpa" de no penúltimo quilómetro já ver a Cidade das Artes e Ciências onde estava instalada a meta e no último ir no tal corredor onde foi uma festa. Mandei um beijinho à placa do 41, interagi com o público fazendo eufóricos festejos e senti-me leve como uma pena por ir conquistar mais uma meta.
Parecendo tudo o viver dum sonho, entrei na plataforma sobre a água que nos conduzia à meta e quis agarrar esses momentos e não mais os largar.
|
Na plataforma a ver se descubro a Mafalda |
A uns 20 metros da meta vejo a Mafalda e saiu-me aquele festejo que ficou fotografado para a posteridade (3ª foto deste artigo).
Abro bem as mãos, fazendo o 10 com os dedos e corto a minha décima meta em Maratona! Emocionado!
Vejo a Cristiana com quem por duas ocasiões fizemos uma centena de metros juntos e trocamos um abraço. Passo então pelo tal corredor dos voluntários que nos querem fazer crer que somos tão campeões como a elite (e somos à nossa maneira!) e encontro a Isa e o Vítor, tendo-nos abraçado. 3 atletas felizes da vida!
|
Felicidade e euforia! |
E como bónus, a marca de 4.54.28 que é a 3ª melhor, apesar de vir a gerir desde os 26,5
|
Todos a fazerem o 10 pela sua décima Maratona! |
Sim, eu sei que em Maratona há sofrimento, há dor, mas isso é durante. Mal se corta a meta, tudo se esquece e o que a memória retém é o que realmente conta, a felicidade por mais uma superação. E uma Maratona é sempre uma prova de superação.
Esta é a minha maneira de encarar as Maratonas. Com enorme paixão, respeito e felicidade. Viver e respirar pelo objectivo.
Se poderia encarar de forma diferente? Poder, poderia. Mas não seria eu!
|
A bonita medalha! |
|
As 10 medalhas maratonianas |
|
O diploma |
E o video das minhas passagens. O tempo que aparece em cada passagem é o tempo desde a partida da minha onda. Para o tempo de chip retirar 5.52.
Note-se a dificuldade com o tornozelo esquerdo aos 30, a euforia aos 40 e o que o locutor diz quando vou cortar a meta. (Clicar no quadrado do canto inferior direito para ver em tamanho maior)
4 - As próximas
A minha regra são duas Maratonas por ano. Mas como não há regra sem excepção, 2019 é a tal excepção com três. Que diga-se de passagem, acaba por compensar 2018 com apenas uma.
E não estão apenas planeadas. Já estou inscrito nas três.
São elas:
17/02 - Sevilha - A Maratona de Sevilha é uma paixão e as paixões não se explicam! Não só pelo maravilhoso público mas pelo que lá passei em 2014 (o tal "milagre" de Sevilha) na que foi a corrida da minha vida.
Este ano iremos conhecer um novo percurso. Na semana passada a organização avisou que a chegada já não poderia ser no Estádio La Cartuja pois foi encerrado por necessitar de obras urgentes na cobertura que estava em perigo de poder cair.
Partida e chegada serão no centro da cidade e com a promessa de ainda mais animação (será possível ainda mais?!?).
Chegar ao estádio era sempre um marco mas a segurança é uma prioridade e confio plenamente nesta organização em que farão algo ainda mais majestoso.
28/04 - Aveiro - Se Sevilha e Porto já estavam decididos, esta foi a surpresa de final do ano, o anúncio da Maratona da Europa em Aveiro. E vou estar na edição inaugural!
03/11 - Porto - 2018 foi a excepção, devido à proximidade com Valência e era inevitável ir ao Porto pela 4ª vez!
E se isto é em 2019, e como referi já estou inscrito em todas, em 2020 já começa a haver um plano.
Das 4 mais famosas Maratonas de Espanha, conheço 3: Sevilha, Barcelona e Valência (pela ordem que participei). Falta-me apenas a de Madrid.
E Madrid está planeada para 2020 com plano idêntico de Valência. Ir de carro e conhecer várias outras cidades (o chamado maraturismo). Será para o norte de Espanha. E aí há muito para ver. Bilbao, Santander, Gijon, Oviedo, Leon, Corunha, etc. É só escolher!
Ufa! Se conseguiram chegar aqui, são mesmo resistentes!
Muito obrigado por todo o apoio! Acreditem que me acompanham em cada uma destas aventuras :)