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Antes da partida, sem imaginar que estava a minutos dum dia histórico e épico! |
Que se lixe a modéstia! Hoje não vou escolher palavras mas sim soltar todo o orgulho que sinto pois fiz uma corrida sensacional!!!
Há dias e dias e há dias que não sabemos se alguma fada das corridas nos escolheu para tocar com a sua varinha mágica e proporcionar uma corrida inacreditável.
O record dos 15 km era (notem bem o tempo do verbo) o meu mais antigo. O da Meia-Maratona vem de Dezembro de 2007 (agora o mais antigo) mas o dos 15 km vinha desde 11 de Novembro de 2007 quando na 3ª edição da Corrida pela Saúde do Hospital Amadora-Sintra despachei a distância em 1.20.20
Só 4 anos depois aproximei-me e foi pela chamada unha negra. Fiquei a 2 segundos (!) em Mafra.
Mais 4 anos, 2015, e tornei a aproximar-me. Desta vez no 1º de Maio onde faltaram 21 segundos e depois em Peniche a escassos 10 segundos.
Este ano, novamente no 1º de Mao, fui a corrida toda a sonhar que iria conseguir. Se leram o relato devem recordar-se que até 200 metros da meta pensava que estava ganho. Mas ainda não era o dia.
Até que chegou ontem!
Estava esperançado em tentar bater o tão antigo record. Dois dias antes fui analisar os tempos quilómetro a quilómetro do ano passado (onde fiquei a 10 segundos) e senti um glup! Eram tempos muito puxados. Como iria conseguir aquilo e um bocadinho melhor? Para se saber a resposta, nada como tentar.
Na véspera, um contratempo intestinal. Recentemente fiquei intolerante à lactose e necessito de todo o cuidado para evitar tudo que a tenha (e não imaginam a série de coisas que a contêm na sua composição). Esta súbita intolerância foi provocada por aquele maldito antibiótico que me prejudicou imenso em Dezembro e provocou depois a lesão que me afectou a preparação para Barcelona.
Ora na véspera, algo me fez mal e o que provoca afecta muito o bem estar físico. Dura pelo menos 2 dias e ontem ainda estava a sofrer com isso.
Ao chegar a Peniche, outra contrariedade, muito vento, o que prejudica o andamento. Estava de tal maneira que nem levei o chapéu pois iria voar. Só que... os deuses da corrida uniram-se e o vento eclipsou-se à hora da partida!
Estava consciente que não iria dar para o que pretendia mas decidi não deitar a toalha ao chão e atacar desde o início. Aí, logo via como estava.
O ambiente era de festa, como o povo de Peniche sabe tão bem fazer. Acontece que coincidiu a prova com o jogo de Portugal no Euro e faltaram umas quantas pessoas nas ruas mas poucas. A maioria saiu à mesma a incentivar-nos. Como queriam acompanhar Portugal e a corrida, levaram rádios e ouviam o relato enquanto gritavam por nós. Gritavam e iam dando informações do jogo. Prescindiram de ver na televisão para nos acompanhar. Viva o povo de Peniche!
Partida dada e atiro-me para um ritmo de ataque. Bom sinal, as pulsações não dispararam e as pernas não se queixaram. Ao 2º quilómetro tenho a sensação que vou no limite mas controlado de maneira a poder continuar assim no resto da prova.
E aí fui, galgando quilómetros mas sempre com a dúvida de como seria com a subida de 3 quilómetros. Se sinto que vou no limite, como conseguir manter essa velocidade durante tanto tempo a subir?
E chega a subida. E... não quebro um milímetro que seja. Pelo contrário, sinto mais força. Em cada quilómetro que passo, em vez de sentir desgaste, sinto a força a crescer. Pura magia?
Ao 8º quilómetro acredito. Vai ser hoje!!! Mas sei que posso novamente morrer na praia. Irá ser decidido ao segundo (pensava eu...), não posso perder o que quer que seja.
Chego ao 10º quilómetro com uma força de vontade e um querer a toda a prova! Agarrei-me ao sonho com unhas e dentes. Nada me poderá parar hoje!
E é então que aparece uma espécie de arma secreta em forma como dum turbo que dispara dentro de mim e desato a correr como se não houvesse amanhã.
Para comparação, tempos dos 10 primeiros quilómetros: 5.09 - 5.18 - 5.12 - 5.12 - 5.09 - 5.13 - 5.22 - 5.23 - 5.01 - 5.19
E agora, a partir dos 10 quilómetros, ou seja os últimos cinco: 4.57 - 4.58 - 4.52 - 4.54 - 5.04
Por aqui se vê como o turbo disparou! E esse turbo foi uma força enorme de sentir ser o dia e não querer desperdiçar a oportunidade.
E claro, ao fim de cada quilómetro, ao ver a marca, mais força tinha!
Entretanto, já tinha havido uma explosão de festa. Coincidiu com a pior subida. Após aqueles 3 quilómetros a subir, cortamos à esquerda, temos uma descida seguida da mais dura subida. Foi aí que marquei o primeiro quilómetro abaixo de 5 (4.57). Foi aí que disparou o turbo e estava mesmo a chegar ao cume e ouvi uma explosão em forma de grito colectivo que contagiou todo o pelotão. Portugal tinha marcado! Nos minutos que se seguiram, o público só gritava "está 1-0 e faltam x minutos", até à festa final de ter acabado, o que mais alegria deu ao maravilhoso público penichense.
Meto-me na faixa de ultrapassagem e aí vou. Até a descer vou bem!
E chego ao último quilómetro. Já tenho a certeza que vai dar e entrar mesmo no minuto 19! O que o tornaria épico. Sinceramente, e depois de tanta coisa que me tem sucedido, em especial nos 10 quilómetros, cheguei a pensar no que ainda poderia correr mal para impedir um tempo de sonho.
Felizmente nada de mal sucedeu, só coisas boas!
E aproximo-me da meta. Completamente focado em dar o máximo nem me apercebia do tempo. Acreditava que ia ser nos 19 minutos. Corto a meta, olho para o relógio e... um inacreditável bónus! Por 1 segundo ainda fiquei no minuto 18!!! 1.18.59... não foi bater um record, foi dizimá-lo, após tantas vezes próximo.
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Últimos metros, último esforço. O prémio estava ali! |
Foi um momento (que perdura...) de indescritível orgulho! Como o filtro da modéstia está desligado, posso dizer que fui sensacional e mereci bem este prémio! Sei que a perfeição é inalcançável mas sinto que ontem fui perfeito!
E se bater o record, e com esta diferença de 1.21, me deixaria extremamente feliz, muito mais fiquei pela maneira como foi!
E claro está, um sentimento muito especial de aos 56 anos bater um tempo que vinha desde os 47. Quem está nestas idades, sabe bem a diferença que existe entre 47 e 56... Mas muito me tenho esforçado para tal. Aliás, daqui a 4 dias, último dia do mês e que marca o meio do ano, sairá um artigo sobre o que tenho treinado e esforçado. O trabalho (treino) recompensa!
Não sei que dizer mais. Apenas agradecer, novamente ao povo de Peniche e reiterar uma frase que só me apetece dizê-la vezes sem conta: "mas ca ganda corrida que fiz!!!"
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O sorriso diz tudo! |