quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Nos EUA, 53% de atletas femininas!


Já em Julho de 2011 publiquei um artigo chamado "As atletas e a mudança de mentalidades", que pode ser lido aqui.

Fazendo um breve resumo, conta quem corria há cerca de 30 anos os insultos que ouvia por treinar na rua, estilo "Vai trabalhar malandro!". E se isso era para os homens, as (poucas) mulheres que treinavam na altura eram alvo de bem pior. 
Relata a nossa Rosa Mota o muito que ouviu antes de ganhar nome e onde o mais suave dizia que o lugar dela era na cozinha.
Georgete Duarte, 46 vezes campeã nacional (!), nas décadas de 40 e 50 conta que ouvia nomes que nem uma prostituta ouviria, por andar a correr de calções. 

Recordo o mal que a mulher foi tratada no Atletismo ao longo dos anos. Tendo os Jogos Olímpicos da Era Moderna visto a 1ª edição em 1896, apenas 32 anos após foi permitida participação feminina no Atletismo. Até então, mulher e Atletismo era algo que não seria compatível nas mentes daqueles senhores.
Nesse primeiro ano, 1928, o máximo que as mulheres puderam correr foi 800 metros mas desde logo vozes de médicos especializados (?) consideraram que a mulher não tinha capacidade para tal distância, sendo banida essa prova até 1960. 
Apenas em 1972 as mulheres puderam competir nos 1.500 metros. A Maratona chegou, finalmente, nos de 1984, após a primeira Maratona feminina a nível oficial ter sido realizada nos Europeus de Atenas 1982, com a primeira vencedora a ser uma jovem e franzina atleta de seu nome Rosa Mota.

Para esta autêntica libertação da mulher para qualquer distância, uma atleta foi fundamental, Katherine Switzer.

Nascida 20 anos antes, Katherine decidiu disputar a Maratona de Boston de 1967. Para conseguir a almejada inscrição, fê-lo com o nome de K.V.Switzer, dado que era determinantemente proibido uma mulher participar.


No dia da prova, tentou disfarçar-se no meio do pelotão e aí foi ela, em conjunto com o seu namorado Tom Miller e treinador Arnie Briggs, até que um oficial de nome Jock Semple descobriu-a, agarrou-a e, com a face mais zangada gritou "Get the hell out of my race!", tentando retirar-lhe o dorsal. Arnie ainda lhe disse que ela estava bem, que tinha sido treinada por ele e que já tinha corrido 50 kms em treino. Mas a fúria do oficial era tal que nem ouvia e só a queria retirar dali. Valeu a providencial ajuda dos restantes atletas que o afastaram, tendo Tom dado um empurrão tal que o homem voou dali para fora.

Katherine em choque, chorou de raiva, mordeu os lábios e mais força teve para correr até à meta, provando o falso que era as mulheres não aguentarem distâncias maiores (na altura, recordo, o máximo que era permitido uma mulher correr era 800 metros!).
Claro que no final foi o bom e o bonito com desclassificações, sanções, etc. Mas a bola de neve começou a ganhar forma e força imparável que foi trazendo mais e mais mulheres ao prazer da corrida, até se chegar ao momento actual.

E porque recordo este episódio? Porque a mesma Katherine Switzer divulgou recentemente que 53% dos atletas que correm pelas estradas dos Estados Unidos são do sexo feminino!

Esta é uma força crescente que se vai notando em muitos países, incluindo o nosso.
Não me posso esquecer que há apenas 6 anos, quando me iniciei, a média normal de participação feminina em Portugal rondava os 6%, para actualmente já se cifrar nos dois dígitos. 
Ainda muito longe da média equitativa que se deseja mas sempre a progredir. 

Venham mais, muito mais, é o que desejo, pois todos ficamos a ganhar!

9 comentários:

  1. Bom artigo mais uma vez, com dados muito interessantes, apesar de já ter visto estas noticias nunca é demais mostrar que as mentes têm vindo a abrir-se, que nós estamos aí para provar que somos todos iguais..
    Quando eu comecei a correr éramos já muitas mas, muito poucas, actualmente somos cada vez mais e ainda bem.
    bj, eugénia

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  2. Uma vez também referi esse caso da K.V.Switzer, que foi flagrante... mas havia tanta discriminação e crenças contra a participação das mulheres na corrida (inclusive de que poderiam "descolar" o útero e orgãos reprodutivos...).
    Se ainda hoje noto a minoria significativa das mulheres nas provas (diria que chega aos 10%, se tanto), imagino as que já andam nisto há mais tempo! Mas penso que começamos a aparecer em força, istos aos pouquinhos vai lá! ;)

    Beijinhos

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    1. Hoje já se passa dos 10%. A maior parte das corridas anda pelos 12 a 17%, o que é mais do dobro e nalguns casos triplo de há 6 anos atrás!

      Beijinhos

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  3. Olá João!

    Women Power!!! :)

    Infelizmente as Mulheres são muito descriminadas na Sociedade Ocidental (dita evoluída) mas a verdade é que o nosso físico permite fazer longa distâncias.

    Aos poucos em Portugal vamos crescendo... nem que seja o reflexo da situação económica, que retira as pessoas do Gym.

    Boa Meia da Nazaré.

    Beijinhos


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    1. É isso mesmo Women Power!
      Aliás, defendo a posição que se as rédeas políticas do mundo estivessem nas mãos das mulheres e se actuassem à mulher (não como algumas que gerem governos que actuam à homem), o nosso planeta era um lugar MUITO melhor para se viver!

      Beijinhos e boa Corrida da Ajuda (e boas castanhas!)

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    2. Olá João!
      Também concordo contigo!
      Aliás a História está cheia de exemplos em que Mulheres foram Rainhas ou chefes de Estado e eram reinados/governações mais pacificas.
      Enfim, o homem tem sede de poder e para ter isso, vale tudo.
      Beijinhos

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  4. Só temos a agradecer a Katherine Switzer pela coragem que teve. Pela luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres.
    É muito bom saber que nos E.U.A. as coisas estão tão equilibradas, chegando até a haver um pouco mais de mulheres do que homens a correr.
    Aqui em Portugal ainda notamos muito a diferença,quer em treinos quer em provas, mas aos poucos as mulheres vão descobrindo este mundo fantástico da corrida e depois, como eu, já não querem outra coisa :)

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    1. Se formos a ver bem as coisas, Isa, 53% é a igualdade absoluta pois o total da população norte-americana tem cerca de 53% de mulheres.

      O que é preciso cá em Portugal, é chegarem muitas mais atletas estilo Isa que adorem correr! :)

      Beijinhos

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