Este é o artigo que até poucos meses atrás nunca me passou pela cabeça ser obrigado vir a escrever.
Sempre me imaginei a envelhecer a correr. Por todo o prazer que a corrida proporcionou desde a minha primeira passada há 15 anos atrás, nunca tendo um só minuto de desmotivação, dúvida ou menos falta de vontade. Quem me conhece sabe bem a verdade que esta frase encerra.
Infelizmente, o pior cenário, aquele que não se queria sequer pensar, sucedeu. A condropatia está demasiada avançada, tentou-se uma última hipótese com a infiltração, segui tudo à risca, mas quando as cartilagens acabam de vez numa extensão tão longa, nada se pode fazer. Fica a certeza que tudo se tentou.
As dores são constantes (24 horas por dia) e mesmo que quisesse morder os lábios e aguentar dando umas passadas, não há mobilidade para tal.
Para andar e fazer a vida mais ou menos normal, dá (com as tais sempre presentes dores) mas a única solução para deixar de as sentir é uma prótese e com prótese no joelho, não se pode correr.
Vou tentar protelar enquanto der, na ilusão de ainda inventarem uma revolucionária e inovadora técnica que resolvesse este problema. Deixem-me sonhar...
Dizia por piada que ainda iria fazer uma Maratona aos 100 (querendo demonstrar o quanto acreditava que a minha vida iria passar a correr) mas afinal nem cheguei a estrear-me no escalão a que acedi no mês passado (M60).
Quando cortei a meta na São Silvestre da Amadora, após uma muito prazerosa prova e com o bónus de ter feito os últimos quilómetros com o grande Orlando Duarte, nada poderia indicar que fosse a derradeira. Por isso, o conselho que dou é aproveitarem ao máximo cada passada. Nunca se sabe quando é a última...
Aproveito para tirar uma dúvida que me têm colocado. Este problema no joelho nada teve a ver com eventuais abusos em termos de quilometragem ou corridas efectuadas, mas sim por alguma pancada feita há já algum tempo (provavelmente uma pancada forte no bico duma mesa ou similar), tendo a rotura ficado ali silenciosamente a funcionar estilo lixa nas cartilagens, desgastando-as quase totalmente. E como as mesmas não têm terminais nervosos, durante esse tempo não senti fosse o que fosse até ter chegado a este estado. Mal apareceu a dor, bem de repente, parei. Não houve nada que pudesse ter evitado.
Foram 15 anos de puro prazer e recordações inesquecíveis que me enchem o coração. E é nisso que tenho que me focar e não ficar a lamentar tudo o que deixei de fazer e tinha planeado e sonhado. Mas acreditem que este processo é muito doloroso e nada fácil.
Não vou desaparecer, gosto demasiado das corridas e do pelotão, por isso vou continuar a ir a algumas provas, agora como espectador e apoiante. O blogue também não vai parar, apesar de natural e inevitavelmente o ritmo dos artigos abrandar.
E claro, o histórico e calendário continuará a ser mantido, como tem sido desde há 11 anos, esperando que num futuro próximo suceda a tal tão necessária remodelação, melhoramento que estou certo irá agradar a todos e tornará a pesquisa e visualização incomparavelmente melhores.
Aproveito para agradecer a todos por estes fantásticos 15 anos que vivi dentro das corridas!
Um grande abraço e fiquem bem!