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Um momento especial, meta em frente |
Há uma frase feita com a qual não me identifico minimamente, a de que não devemos regressar onde fomos felizes. Pelo contrário, sou da opinião que devemos sempre regressar, saborear o doce da recordação. Bastas vezes o erro é comparar, o que impede o melhor aproveitamento do momento.
Por tal razão, assim que saí de Sevilha em 2014, soube que ia regressar. Que tinha de regressar!
Em 2015 a prioridade foi cumprir o sonho de correr em Paris, "dans la plus belle ville du monde" e em 2016 Barcelona, aproveitando para conhecer a majestosa cidade.
2017 ficou assim com o desejado regresso ao local onde realizei a corrida mais especial das minhas quase 400 efectuadas.
Não gosto de estabelecer competição ou rankings no que me dá prazer. Todas as corridas são especiais. Mas as Maratonas têm um mundo à parte. Tal como alguém já disse, uma Maratona não é uma corrida é uma Maratona! E qualquer uma das 7 que concluí é muito especial. Mas Sevilha em 2014 teve algo de mágico.
A verdade é que não estava de modo algum capaz de realizar a distância, nem aproximada. 5 semanas antes sofri uma infecção pulmonar que muito me debilitou. Logo naquilo que nos dá a resistência.
Bastava subir uma rampa, mesmo que devagar, e ficava ofegante, em virtude da incapacidade dos pulmões processarem o seu habitual ritmo de troca de oxigénio.
De repente, toda a forma tinha-se eclipsado. Os poucos treinos antes, foram fracos e curtos. Apenas 3 semanas antes tentei 24 e o desastre foi total, andando mais do que correndo.
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Uma Maratona de boa disposição de início ao fim |
E temos que enquadrar o momento. Na altura tinha apenas uma Maratona no currículo, a memorável de estreia em Lisboa 2012. Em 2013, 4 meses antes de Sevilha, alinhei na primeira Rock'n'Roll. Muito bem preparado, sofri um duro imprevisto com a hérnia do hiato a soltar-se e como que a envenenar-me, sendo obrigado a desistir, o que já por si era doloroso e mais foi por ser uma Maratona especial a apadrinhar a Isa.
Reconheço que essa desistência afectou-me bem mais do que devia, sentimento que se prolongou por demasiado tempo, estando ainda muito presente nessa ida a Sevilha, com o espectro de novo DNF, o que, muito provavelmente, encerraria o capítulo Maratona. E o que iria perder...
Se em Lisboa 2012 tornei-me maratonista, em Sevilha 2014 ganhei uma carreira em Maratona. O que se passou então?
A verdade é que não consigo explicar o que sucedeu naquele dia. Nem estou preocupado com a razão, apenas querendo aproveitar as suas inesquecíveis sensações.
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Ia ou não feliz? |
Com a aproximação da data e a certeza de não recuperar, não consegui dormir mais do que umas 4 horas por noite nas últimas 5. A derradeira então, foi péssima, estando desde as 3 da manhã acordado em pânico e desespero por saber que ia partir para encostar mais à frente. O pequeno-almoço e a ida para a partida, fica na memória de quem viu o estado em que me encontrava.
Até que... chegou a hora de ir ao carro equipar. Senti o ar frio da manhã subir pelas narinas e oferecer-me uma estranha calma. A boa disposição regressou num clique inaudível. Vamos a isso!
Estranha e misteriosa transfiguração que prenunciou o que se iria passar, fazendo-me passar do nadir ao zénite.
Tinha em mente uma táctica suicida que seria a única capaz de me levar à tão ansiada meta. Nada disse para não tentarem dissuadirem-me.
Estava já em pleno modo Maratona. Tudo deitado para trás. Nada de preocupações, apenas o aproveitar o momento. Uma Maratona carpe diem.
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Meta!!! |
E 42.195 metros depois, tive o momento mais feliz que uma corrida pode oferecer, após aquela que apelidei, e mantenho, como a corrida mais inteligente, divertida e emocional que alguma vez vivenciei.
A foto que encima este artigo é muito especial. Só eu sei o que estava a passar já dentro do estádio e com a meta em frente.
Estive a reler o artigo que escrevi na altura e, 3 anos depois, tocou-me a emoção com que o escrevi. Para quem quiser ler ou reler, clicar aqui.
Como sempre, a ambição para de hoje a uma semana, é o cortar a meta. Se, muito eventualmente, algo mais houver é um bónus, do qual, sinceramente, duvido.
Se em cada corrida do dia a dia algo pode suceder, em Maratona tudo se amplifica e basta um pequeno nada para deitar por terra tudo o que se preparou. Portanto, a única ambição que levo na mala é ver a entrada do túnel para o estádio, dar a volta de honra e cortar a meta.
E mal posso esperar!
Como sempre, um agradecimento especial a quem me apoia constantemente, ficando cientes que vos levo a todos comigo.
Até ao próximo artigo... com o relato da que espero seja a minha oitava Maratona! :)
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Com a tão ambicionada medalha de sabor olímpico |