domingo, 28 de junho de 2015

Nas Fogueiras a 10 segundos dum record de 15 km com 8 anos


Pela 8ª vez em 10 épocas, estive na Corrida das Fogueiras, local obrigatório de visita no último sábado de Junho.

Este ano com nova partida, para evitar o afunilamento inicial e permitir uma maior participação, facto que resultou em 2.728 classificados, batendo em quase 400 o anterior máximo.
Para compensar o adiantamento da partida, acrescentou-se uma volta por Peniche ao 13º quilómetro.

Como sempre, o povo penichense saiu à rua em grande, e a nova partida permitiu um início com entusiástico público a vibrar com todo o pelotão. 
Aliás, fiquei com a sensação que este ano havia ainda mais apoio. Este povo é incansável!

É sabido que estou num bom momento de forma, fruto de todo o trabalho que tenho vindo a desenvolver desde Novembro, aliado à ausência de qualquer lesão ou maleitas (como tive várias o ano passado).
E como quanto mais treino, mais sorte tenho, a intenção desta prova era dar o máximo. O objectivo primário era estabelecer a melhor marca desta Corrida (1.24.10 em 2011) e aproximar-me o mais possível do record absoluto dos 15 km, valor que seria muito difícil de alcançar pois é de 1.20.20

Foi a 11 de Novembro de 2007 que na 3ª Corrida pela Saúde (Hospital Amadora-Sintra) registei essa marca. 4 anos depois, na 29ª Corrida dos Sinos em Mafra quedei-me a 2 segundos (!) e este ano na 34ª Corrida Internacional do 1º de Maio fiquei a 23 segundos.

Este percurso não é tão favorável a marcas, principalmente a pessoas com um problema de visão que as faz ver menos que o normal à noite, o que retira alguma confiança na passada em especial na subida de 4 quilómetros onde reina mais escuridão. Apesar deste ano ter levado uma lanterna que auxiliou mas tenho consciência que com luz natural teria outra confiança na passada.

Consciente destas dificuldades, ignorei-as, pois a intenção era o ataque máximo. O resultado final logo se via.


E foi uma corrida diferente para mim. Ao contrário do habitual, a ir para o retorno não reparei quem liderava nem os perseguidores. Não reparei nas crianças com as mãos estendidas e, se me perguntarem o que achei do quilómetro novo, não sei opinar. Fui de tal maneira concentrado, que a minha energia era sempre para a próxima passada, abstraindo-me do resto, apesar de ouvir todo o apoio.

Desde cedo que ficou garantida a melhor marca das Fogueiras, e por boa margem (acabaria por serem 3.40 a menos) mas o resto logo se via. Dar o máximo!

Aos 10 quilómetros foi a única vez que fiz contas. Passei exactamente em 54.00, o que daria 1.21.00 na meta. 40 segundos de diferença para recuperar em 5 quilómetros, ainda afastava mais a já de si remota hipótese de bater o record absoluto de há 8 anos. Mas não quis saber. Atacar!

E foi assim, nunca cedendo um só segundo, que fui até à meta. E sem ver o tempo para não desperdiçar fracções de segundo. 
Com a meta à vista, dei tudo o que ainda tinha para dar. Corto-a e olho para o relógio. Relógio que dá os minutos e segundos mas a partir da hora apenas apresenta horas e minutos. 
Marcava 1.20, momento de emoção, o coração bateu mais. Quantos segundos seriam? Terei conseguido bater aquela marca histórica. Fui até aos segundos e... 30

1.20.30, fiquei a escassos 10 segundos. Sei que dei tudo, que este tempo, neste percurso e condições de luz vale mais que o outro bem mais acessível, mas... não pude deixar de sentir um certo amargo de boca.

E amargo de boca porquê? É que o record não era recente. Vem de há 8 anos e ontem estive muito perto de o bater. 
10 segundos ainda são 10 segundos, mas não chegam a um segundo por quilómetro. Para ser exacto, fiquei a 67 centésimos de segundo por quilómetro...

E daria um gozo ainda mais especial passar a deter o record feito com 47 anos quando tenho 55.
Não há como dar a volta, nesta idade vão-se perdendo segundos a cada ano que passa. Mas, não me digam nada pois eu continuo a ignorar essa realidade. Até quando não sei. Apenas quero aproveitar o momento.

E o momento que se segue é, a partir de amanhã, o início de preparação para a tão temida Maratona de Lisboa. 
Nestes dois meses que se seguem, a única prova será daqui a 2 semanas na Lagoa de Santo André, pois esta é daquelas que também não se podem perder.


  

domingo, 21 de junho de 2015

Dose dupla: Challenge 3000 (em grande!) e Base Aérea do Montijo (com esbardalhanço incluído)

Tal como há duas semanas, este fim-de-semana foi de dose dupla. E a primeira foi...


Challenge 3000

Após a espectacular Marginal à Noite sete dias antes, onde realizei a corrida com a melhor média de sempre (8 km a 4.50), as expectativas estavam mais altas para este desafio.

Desde que me inscrevi que me empenhei muito nesta prova, a mais curta alguma vez realizada, e era o meu grande objectivo até final do mês, altura que inicio a preparação para a Maratona de Lisboa.

Devo confessar que estive todo o dia algo nervoso/expectante, o que aumentou mais à medida que a hora se aproximava. Sabia que estava a valer um bom tempo mas a dificuldade iria ser gerir uma prova com apenas 3 km sendo a minha experiência nesse capítulo, nula!

Ao contrário do habitual, teria que entrar a matar logo desde o apito inicial, mas não o suficiente para morrer antes da meta. Tive treinos específicos para este fim, na pista do Inatel e tal permitiu-me ir medindo o pulso a diversos ritmos.

Nesta prova não contam os lugares que se alcançam mas sim o desafio que cada um se propõe ao escolher a série sub18 ou 15 ou 12 ou 10, tendo que baixar dessa marca.
Naturalmente escolhi a sub15, o que implicaria uma média de 4.59 para baixo, o que com esforço e em condições normais conseguiria, mas o meu desafio pessoal era aproximar o mais possível do minuto 13, sabendo que não seria possível entrar nele (o que obrigaria a uma média de 4.39 para baixo) mas ficar o mais perto possível.

O calor em excesso não foi um aliado mas não sinto que tenha prejudicado, dado que às 19 horas já a maior parte da pista estava à sombra. 

O meu primeiro grande segredo foi ter realizado um muito adequado aquecimento para preparar a máquina para começar em rotação muito alta.

Dado o tiro de partida, e ao longo de toda a prova, o meu maior trunfo foi aquele que tanto receava. Geri a prova de forma impecável e sentia-me no limite mas bem, sem qualquer sinal de quebra.

Pelo canto do olho ia controlando o tempo e o abaixo de 15 foi desde logo mais que garantido. Mas outro tempo começou a configurar-se. Foi questão de manter o esforço no máximo (confesso que até nem custou assim tanto) e chegar à última volta ainda com 5 tostões de força adicional para fazer uma volta mais rápida.

No final, recebi como prémio um tempo que considerava impensável: 13.53, média de 4.37,6!

Como se compreende, tal deixou-me muito feliz. Este foi um desafio a que me dediquei e empenhei muito e o ter alcançado uma marca melhor do que ambicionava, é extraordinário.

Este ano tem sido realmente fantástico. Em 4 meses, esta foi a 4ª prova em que me excedi. Tudo começou nos 20 Km de Cascais onde baixei da hora e cinquenta, algo que nunca imaginei. No 1º de Maio, escassos 19 dias após a Maratona de Paris, fiquei a escassos segundos do record de 15 km. Na semana passada fiz a também nunca imaginada loucura de 8 km a 4.50, e hoje foi o que foi.
E o momento alto do ano foi o ter realizado o velho sonho de correr na Maratona de Paris.  
E isto tudo sem esquecer o ter conseguido 5 treinos de 30 km em 2 meses e meio, como preparação para a Maratona, quando nas anteriores nunca tinha passado dum.

Razões há muitas, onde a ausência de lesões ou outras maleitas que me afectaram em especial no ano passado contam e muito, mas temos que reconhecer que desde Novembro tenho andado incansável no trabalho que tenho feito e dedicado.

Também mantém o moral em alta o facto de na sexta-feira ter realizado um exame cardiológico para controlo da máquina e o médico ter feito os maiores elogios à forma como está o meu coração!   

E passemos à segunda:



2ª Corrida da Base Aérea nº6 - Montijo

Na conclusão do Circuito das Forças Armadas, a 2ª edição da Corrida da Base Aérea nº6 no Montijo.

Um percurso variado entre o alcatrão, terra batida e areia (tanto de praia como de pinhal).

Após o meu voo de ontem, aterrei na Base Aérea para uma corrida calma em modo desfrutar.

E na realidade, esta corrida nem é propícia para tempos, tanto mais que tem cerca de 300 metros mais que os 10 quilómetros e a passagem na praia (cerca de quilómetro e meio na fase inicial) e em especial o último quilómetro com areia de pinhal onde se demora mais tempo a desenterrar o pé que a impulsioná-lo, não permite veleidades.

Essas duas passagens em areia fizeram-me recordar porque não corro em praia e evito provas de trilhos. Coloco o pé demasiado de lado e este tipo de piso obriga-me a ir com muito cuidado, além de ter ficado com o pé queixoso apenas por esse pedaço. Mas mais queixosos ficaram os joelhos que gritaram várias vezes "oh tu aí em cima, não sabes que não damos para isto?"

Apesar de ter sido a minha prova número 338, faltava-me estrear algo em corrida: O ir medir o grau de dureza dum chão. Vulgo "esbardalhanço". Certo que já tive coisas bem mais graves em corrida, e de que maneira!, mas queda nunca. Alguma vez teria que ser.

Ia eu por volta do quilómetro 8, numa altura de terra batida, quando passámos ao lado de dois aviões e um helicóptero. E foi este que me chamou a atenção pela sua pintura de camuflado e o seu aspecto típico dos que vemos nos filmes do Vietname. A olhar para o lado, para o ver, não vi uma raiz mais saída e quando dei por mim estava estatelado.

Caí sobre o lado direito e, felizmente, não me magoei. Apenas uma feridazinha de lado no joelho direito (que já vinha zangado comigo por causa da areia) e no braço.

Agradeço aos caminhantes que mostraram preocupação se me tinha magoado mas foi só levantar-me, fazer um rápido check-up, agradecer e continuar a corrida. Terminei os cerca de 10.300 metros nuns calmos 1.01.03

Em resumo, gostei da prova, gostei de a ter conhecido mas ficará como única presença pois não quero lesionar-me por causa da areia, terreno para o qual, decididamente, não dou.

Próxima paragem: Corrida das Fogueiras no sábado (a minha 8ª presença) 

  

terça-feira, 16 de junho de 2015

Estudo comparativo de participação feminina em provas. Portuguesas: Pouca quantidade, muita qualidade


O Wings for Life World Run é uma corrida global, com tiro de partida simultâneo em vários locais espalhados pelo mundo, e onde os atletas competem entre si pela maior distância percorrida, no inédito fim de não irem ter com a meta mas sim ser a meta a apanhá-los.

A intenção é colocar atletas de todo o mundo a correr, apoiando a organização que se dedica à cura da espinal medula.

Este ano teve a sua 2ª edição, com Portugal novamente incluído. Após a Comporta, foi a vez do Porto ser a cidade escolhida.

Sendo a mesma corrida em vários pontos do globo, permite uma comparação entre a participação, no caso vertente a feminina. 
Este é um estudo meramente indicativo, pois não é através duma única corrida que se podem tirar conclusões definitivas, mas proporciona uma ideia aproximada.

No Porto contabilizaram-se 916 participantes, dos quais 241 femininas, obtendo-se uma relação de 26,3%, boa para os nossos hábitos, que rondam habitualmente entre os 16 a 21%.

A evolução tem sido notória pois essa relação situava-se entre os 3 e os 6% há 10 anos atrás. Será no entanto boa comparando com os restantes países? Pois a resposta é um claro não!

Atente-se no quadro 1 com a relação de participação feminina nos 35 locais onde decorreu o Wings for Life e onde a prova portuguesa se posiciona em 34º e penúltimo lugar, sendo que em 7 locais participaram mais atletas femininas do que masculinos e em 23 dos 35 essa relação foi superior a 40%. Menos de 30% apenas os 26,3 de Portugal e os 19,9 da Índia.

Mas quanto valeram essas atletas? Pois fazendo a média da distância que alcançaram (*) estamos no pódio com a 3ª melhor média e a muito curta distância das duas primeiras! 

Em conclusão, podemos ter pouca quantidade mas temos muita qualidade!
Algo que, repito, não é um estudo exaustivo mas que vai de encontro ao que pensávamos

Quadro 1 - Percentagem de participação feminina

Lugar
País, Local
Total atletas
Total femininas
% femininas
1
E.U.América, Sunrise
1.289
738
57,3
2
E.U.América, Santa Clarita
1.611
882
54,7
3
África do Sul, Cidade do Cabo
1.041
550
52,8
4
Canadá, Cataratas do Niágara
540
284
52,6
5
Noruega, Stavanger
931
469
50,4
6
Austrália, Melbourne
2.125
1.069
50,3
7
Suiça, Olton
2.943
1.476
50,2
8
Croácia, Zadar
3.123
1.556
49,8
9
Taiwan, Yilan
3.614
1.751
48,5
10
Geórgia, Kakheti
2.795
1.351
48,3
11
Holanda, Breda
2.155
1.007
46,7
12
Eslovénia, Liubliana
1.901
865
45,5
13
Brasil, Brasília
3.155
1.412
44,8
14
Roménia, Bucareste
1.560
678
43,5
15
Eslováquia, Bratislava
1.968
843
42,8
16
Irlanda, Dublin
1.270
543
42,8
17
Alemanha, Munique
3.215
1.370
42,6
18
Suécia, Kalmar-Oeland
2.289
969
42,3
19
Áustria, Niederösterreich
6.390
2.660
41,6
20
Bélgica, Ieper
3.505
1.451
41,4
21
Rússia, Kolomna-Moscovo
1.130
466
41,2
22
Alemanha, Darmstadt
2.273
929
40,9
23
Dinamarca, Aarhus
1.151
462
40,1
24
Grã-Bretanha, Silverstone
1.201
469
39,1
25
Itália, Verona
2.477
916
37,0
26
Turquia, Alanya
1.153
423
36,7
27
Polónia, Poznan
2.836
996
35,1
28
Emirados, Dubai
559
194
34,7
29
Perú, Lima
1.036
339
32,7
30
Chile, Santiago
1.006
329
32,7
31
Espanha, Aranjuez-Madrid
1.276
411
32,2
32
Japão, Takashima
1.987
621
31,3
33
França, Rouen
1.723
518
30,1
34
Portugal, Porto
916
241
26,3
35
Índia, Gurgaon
542
108
19,9

Quadro 2 - Média de Km por atleta feminina (*)

Lugar
País, Local
Total femininas
Total Kms
Média p/atleta
1
Dinamarca, Aarhus
738
7.140,49
15,46
2
Noruega, Stavanger
882
7.238,93
15,43
3
Portugal, Porto
550
3.667,83
15,22
4
Eslovénia, Liubliana
284
12.722,32
14,71
5
Suécia, Kalmar-Oeland
469
14.188,14
14,64
6
Chile, Santiago
1.069
4.798,16
14,58
7
França, Rouen
1.476
7.303,94
14,10
8
Canadá, Cataratas do Niágara
1.556
3.919,48
13,80
9
Alemanha, Munique
1.751
18.819,76
13,74
10
Grã-Bretanha, Silverstone
1.351
6.426,93
13,70
11
Perú, Lima
1.007
4.643,52
13,70
12
Polónia, Poznan
865
13.550,48
13,60
13
Eslováquia, Bratislava
1.412
11.397,85
13,52
14
Itália, Verona
678
12.002,09
13,10
15
Alemanha, Darmstadt
843
12.047,86
12,97
16
Austrália, Melbourne
543
13.694,69
12,81
17
Irlanda, Dublin
1.370
6.904,62
12,72
18
Áustria, Niederösterreich
969
33.669,40
12,66
19
Bélgica, Ieper
2.660
18.152,21
12,51
20
Suiça, Olton
1.451
18.263,71
12,37
21
Espanha, Aranjuez-Madrid
466
5.005,37
12,18
22
Holanda, Breda
929
12.159,35
12,07
23
Japão, Takashima
462
7.280,09
11,72
24
África do Sul, Cidade do Cabo
469
6.324,38
11,50
25
Croácia, Zadar
916
17.395,61
11,18
26
Rússia, Kolomna-Moscovo
423
5.149,07
11,05
27
E.U.América, Sunrise
996
8.144,19
11,04
28
E.U.América, Santa Clarita
194
9.546,87
10,82
29
Roménia, Bucareste
339
7.219,75
10,65
30
Brasil, Brasília
329
14.980,52
10,61
31
Taiwan, Yilan
411
16.170,47
9,23
32
Índia, Gurgaon
621
951,45
8,81
33
Turquia, Alanya
518
3.313,65
7,83
34
Emirados, Dubai
241
1.500,74
7,74
35
Geórgia, Kakheti
108
7.208,40
5,34

(*) Esta prova não tem distância fixa. Os atletas partem e correm até serem apanhados pelo carro meta que arranca 30 minutos depois a uma determinada velocidade.